Promovida pela Associação Brasileira de Energia Nuclear (ABEN) de 6 a 10 de maio, na Escola de Guerra Naval (EGN) e na Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), no Rio de Janeiro, a XI International Nuclear Atlantic Conference – INAC 2024 (Conferência Internacional Nuclear do Atlântico) apresentou a mesa-redonda sobre “Adversidades e Oportunidades para a Transição para uma Energia Sustentável: Explorando Tecnologias Nucleares”, a qual representou um dos pontos altos das discussões realizadas no evento. A mesa foi coordenada pelo assessor da Diretoria Executiva da Amazônia Azul Tecnologias de Defesa S.A. (Amazul) e associado da ABEN, Leonam dos Santos Guimarães.
A volta ao debate sobre a energia nuclear no País para geração de energia está se inserindo aos poucos nos vários congressos e encontros da área. A geração nuclear é uma energia de base, emite baixa quantidade de CO2, é confiável e participa da segurança energética, assim, completa com certeza o mix da matriz elétrica brasileira que tem atualmente a vantagem de já ser uma matriz mais limpa do que a média mundial.
O encontro reuniu Francisco Rondinelli (Presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear – Cnen), Bento Albuquerque (ex-Ministro de Minas e Energia), Nelson Leite (World Energy Council – WEC Brasil) Adriano Pires (Centro Brasileiro de Infraestrutura – CBIE), Giovani Machado (Empresa de Pesquisa Energética – EPE), José Mauro Esteves (Agência Nacional de Mineração – ANM) e Amilcar Guerreiro (Enetec – Energia & Tecnologia).
Embora o ex-Ministro de Minas e Energia e Almirante de Esquadra Bento Albuquerque tenha frisado que a matriz elétrica brasileira é equilibrada, ele mostrou preocupação com o crescente aumento da participação das fontes renováveis, que são intermitentes e não compõem a base do sistema elétrico. Em sua opinião, o investimento na expansão da geração nuclear teria um papel decisivo na construção de uma “independência energética” no Brasil, em um contexto de tensões geopolíticas e maior demanda internacional pela descarbonização.
O Almirante Bento Albuquerque também frisou que o País possui volumosas reservas de urânio, domina o ciclo do combustível nuclear, incluindo a sensível etapa de enriquecimento de urânio, e detém longa experiência na operação de usinas nucleares. “Apenas Brasil, Estados Unidos e Rússia estão nessa situação”, afirmou.
O ex-ministro também discorreu sobre uma possível exploração da energia nuclear em parceria com o setor privado em caso de abertura regulatória para exploração de urânio e modernização do arcabouço legal. Bento Albuquerque ainda salientou a revolução ocasionada pela Inteligência Artificial (IA) no setor energético.
Francisco Rondinelli externou preocupação com três aspectos: a intensa queima de combustíveis fósseis, a exploração predatória de recursos naturais e o desflorestamento. O presidente da Cnen destacou que considera desperdício de recursos públicos interromper as obras de construção de Angra 3 e que a fonte nuclear poderia crescer no Brasil de modo a ocupar uma capacidade de geração equivalente à da Hidrelétrica Binacional de Itaipu – em sua visão, a fatia nuclear na matriz elétrica do País seria ideal na faixa de 10% a 12%. Rondinelli também discorreu sobre grandes projetos conduzidos pela Cnen, como o Reator Multipropósito Brasileiro (RMB) e o Centro Tecnológico Nuclear e Ambiental (Centena), bem como as diversas aplicações sociais da energia nuclear.
O economista Adriano Pires mencionou as várias transições energéticas que já ocorreram no mundo, pontuando que a atual, diferentemente das anteriores – motivadas pela busca de maior eficiência energética -, ocorre prioritariamente em virtude de questões ambientais. Desse modo, esclareceu que “não se pode olhar o preço da energia em si, mas o atributo de cada fonte e o fator de capacidade” e assinalou a importância de buscar segurança energética atrelada ao acesso à energia por parte das camadas de baixa renda. Esse novo ciclo de expansão da energia nuclear acarretará em inovações trazendo soluções alternativas aos modelos de geração tradicionais.
Por sua vez, o engenheiro eletricista e nuclear Nelson Leite destacou que a descarbonização deve ser o meio de atingir a segurança energética ancorada na eletrificação, defendeu a precificação dos atributos de cada fonte de energia e enfatizou três premissas a serem consideradas na transição energética: segurança energética, sustentabilidade ambiental e acessibilidade.
Giovani Machado abordou a infraestrutura nuclear no País e os desafios de escalada de custos e cronogramas não atingidos, bem como o papel da fonte de origem nuclear descrita no Plano Nacional de Energia – PNE 2050, elaborado pela EPE. Ele discorreu sobre a geração nuclear no contexto de segurança energética, sustentabilidade do sistema e descarbonização e a possibilidade de ser usada em outros mercados, notadamente nos de carbono, calor industrial e hidrogênio. Em seu entendimento, o valor total da energia nuclear (benefícios) é a soma dos valores de uso, da precaução e da sinergia. “Seria a expressão matemática do Decreto 9.600/2018”, afirmou. Esse Decreto trata das diretrizes da Política Nuclear Brasileira e estabelece como princípios a busca da autonomia tecnológica nacional e a cooperação internacional para o uso pacífico da tecnologia nuclear.
José Mauro Esteves dos Santos, ex-presidente da Cnen, assinalou as seguintes oportunidades na transição energética no cenário nacional: utilização das reservas brasileiras de urânio, melhoria da cadeia de suprimentos do setor nuclear, volta da formação de recursos humanos para a área nuclear e benefícios para a formação técnica e científica no setor nuclear. Com relação às adversidades, destacou a criação do modelo de negócio; estabelecimento de parcerias – escolha do parceiro; informações geológicas organizadas (muitas vezes estão incompletas); bloqueio de áreas; prazos muito longos para desenvolvimento de áreas “greenfield“, elaboração da parceria e o início de produção.
Amilcar Guerreiro colocou que as preocupações relativas ao aumento do consumo de eletricidade e do custo de energia e à importância da segurança energética levam a questões sobre se estão disponíveis recursos energéticos suficientes, se existem soluções tecnológicas disponíveis para garantir a acessibilidade e se a confiabilidade e a resiliência do sistema podem ser garantidas. Desse modo, a energia nuclear pode ter espaço nesse contexto.
Como disse o ex-ministro Albuquerque em uma entrevista concedida ao Infomoney, “O mundo redescobriu a energia nuclear”. “Querendo ou não, ela vai ser fundamental para os próximos movimentos globais”, afirmou. As volumosas reservas de urânio, o domínio da tecnologia de enriquecimento e a longa experiência na operação de reatores são diferenciais competitivos para o Brasil.
Site oficial da XI INAC 2024: www.inac2024.com.br.
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Fotos: Willer José