Autoridades suíças selecionaram um local no norte do país, não muito longe da fronteira alemã, para abrigar um repositório geológico profundo de rejeitos radioativos.
Depois de quase 50 anos procurando a melhor maneira de armazenar seus rejeitos radioativos, a Suíça está se preparando para o que a Nagra, cooperativa de descarte de tais rejeitos, chamou de seu “projeto do século”, que consiste em enterrar combustível nuclear irradiado no subsolo em argila.
A Nagra disse que decidiu que a região de Nördlich Lägern era a melhor de três que estava considerando para a instalação de um armazenamento subterrâneo. As outras duas áreas em disputa foram Jura Ost e Zürich Nordost, também no norte da Suíça.
A Nagra informou que, que enquanto a paisagem na superfície da Terra evoluir, o repositório geológico profundo será protegido porque a rocha abaixo da superfície oferece a maior estabilidade possível a longo prazo.
O repositório em planejamento receberá rejeitos de baixo, médio e alto níveis de atividade (HLW, na sigla em inglês). As usinas nucleares suíças em operação – Beznau 1, Beznau 2, Gösgen e Leibstadt – produzirão cerca de 1.500 m³ de HLW ao longo de suas vidas úteis.
O HLW é composto por cerca de 1.400 m³ de elementos combustíveis irradiados e cerca de 100 m³ de material oriundo de reprocessamento. Cerca de metade dos rejeitos de baixo e médio níveis deverá vir do descomissionamento de usinas nucleares. O restante será produzido pelos setores de medicina, indústria e pesquisa.
A Nagra agora preparará os pedidos de licença geral, que espera enviar ao governo federal em 2024. Como parte do projeto do repositório, a Nagra planeja construir plantas de encapsulamento nas instalações de armazenamento temporárias de Zwilag, localizada na cidade de Würenlingen, no Cantão de Argóvia, a 15 km da fronteira com a Alemanha. Até o momento, os rejeitos radioativos suíços eram armazenados em instalações temporárias em Zwilag e nas próprias centrais nucleares.
Decisão final no mais tardar até 2029
O governo da Suíça não deverá tomar a decisão final até 2029, mas relatórios indicam que a questão pode ser submetida em um referendo sob o sistema de democracia direta do país europeu.
Com a nova instalação, a Suíça espera se juntar a um clube de elite de países que se aproximam do armazenamento geológico profundo. Até agora, apenas a Finlândia iniciou a construção de um repositório. O país escandinavo planeja iniciar a colocação final do combustível nuclear usado na instalação, conhecida como Onkalo, até 2025, o que a tornaria a primeira nação a operar uma instalação do gênero.
Por sua vez, a Suécia deu luz verde em janeiro passado à ideia de construir um repositório geológico profundo final para combustível nuclear irradiado em Forsmark, no município de Östhammar, e uma instalação de encapsulamento perto de Oskarshamn. Já a França também tem planos de armazenar rejeitos radioativos no subsolo em argila.
Em maio de 2017, a Suíça votou para começar a eliminar gradualmente suas usinas nucleares, que fornecem cerca de um terço da eletricidade do país, como parte de uma política energética adotada a partir de 2014 que também reduzirá o consumo e aumentará a geração de eletricidade via fontes eólica e solar.
Em dezembro de 2019, os operadores desativaram a usina nuclear de Mühleberg após 47 anos de operação porque os investimentos para continuar utilizando a planta foram considerados inviáveis.
Não há datas para os desligamentos das quatro usinas em operação na Suíça, embora se saiba que as próximas a serem desativadas serão Beznau 1 e 2, que entraram em operação, respectivamente, em 1969 e 1972. As outras duas plantas começaram a funcionar em 1979 (Gösgen) e 1984 (Leibstadt).
No mês passado, políticos suíços formaram um grupo de lobby que planeja fazer uma petição ao governo para realizar um referendo sobre a revisão da política energética do país para garantir o fornecimento adequado de energia e manter a fonte nuclear na matriz.
Leia a notícia original, em inglês, aqui (é necessário possuir cadastro no site).
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Autor: David Dalton
Foto: Projeto do repositório termina enterrando o combustível nuclear gasto no subsolo em argila / Cortesia: Nagra
Fonte: NucNet