O trabalho premiado reúne profissionais de dois centros de pesquisa do Instituto e é inovador ao utilizar microusinagem com laser de femtosegundo para sistema microfluídico na produção de radiofármacos
O trabalho “Circuito microfluídico aplicado à concentração de 18F (Flúor-18) para produção de radiofármacos”, que é parte da pesquisa de doutorado em andamento, desenvolvida pelo aluno da pós-graduação do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen/Cnen), Antonio Arleques Gomes, conquistou o 1º lugar com a láurea “Marcos Pinotti Barbosa”, concedida à melhor pesquisa estudantil apresentada durante o XII Congresso Latino-Americano de Órgãos Artificiais e Biomateriais (COLAOB/2023) realizado no período de 12 a 15 de dezembro de 2023 em Mar del Plata, Argentina.
O prêmio, inédito para o programa de pós-graduação do Ipen, é considerado um dos mais importantes para a comunidade científica da Sociedade Latino-Americana de Biomateriais e Órgãos Artificiais (SLABO), organizadora do evento, e presta homenagem ao professor Marcos Pinotti (1965-2016) reconhecido como um dos principais cientistas brasileiros nas áreas de Biomimética e Bioengenharia e cofundador da SLABO.
A pesquisa, escolhida entre 69 trabalhos apresentados durante o congresso, está sob a orientação do professor Dr. Wagner de Rossi, gerente do Centro de Lasers e Aplicações (Celap) e coorientada pelo farmacêutico Dr. Emerson S. Bernardes, gerente do Centro de Radiofarmácia (CECRF) do Ipen. Também contou com a importante participação do radioquímico Dr. Arian Pérez Nario, bolsista de pós-doutorado do Ipen e do físico Dr. André Luiz Lapolli, responsável pelo Serviço de Operação de Aceleradores Cíclotron do instituto.
Na prática, a pesquisa visa desenvolver um sistema microfluídico por meio de técnica de microusinagem com laser de pulsos ultracurtos para a produção de radiofármacos a partir de Flúor-18. No trabalho, foi produzido um circuito microfluídico dedicado chamado de “Microcartucho de troca aniônica” destinado ao primeiro estágio de obtenção de qualquer radiofármaco; um produto utilizado essencialmente para diagnósticos, tratamentos e terapias de várias doenças que são objeto da medicina nuclear.
O processo compreende duas fases distintas. Na primeira, o Flúor-18 obtido em cíclotron fica retido no microcartucho. Na segunda, de eluição, o Flúor-18 é extraído resultando em um eluente líquido com uma concentração significativamente elevada do radionuclídeo.
Além de inédito no Brasil, o resultado da pesquisa desenvolvida no Ipen/Cnen pode ser considerado significativo uma vez que conseguiu uma concentração do eluente com Flúor-18 de seis a dez vezes maior que a obtida por meio de outros processos convencionais na primeira etapa de produção de radiofármaco, como, por exemplo, o Fluordesoxiglicose (FDG).
“Ter sido premiado com o trabalho de maior importância e relevância científica em um congresso desse nível é, sem dúvida, uma grande satisfação para mim e acredito, de grande importância para o Ipen”, destaca o doutorando Antonio Gomes, o qual enfatiza a dedicação do prêmio ao seu grupo de pesquisa e, em especial, a seu orientador pelo apoio incondicional.
O doutorando explicou ainda que os resultados apresentados, bem como o desenvolvimento da técnica de microusinagem com laser de pulsos ultracurtos, posicionam o Ipen como uma instituição de destaque na inovação tecnológica e científica nesta área do conhecimento.
Uma das principais missões do Ipen é tornar a medicina nuclear cada vez mais acessível à sociedade brasileira e o Flúor-18 tem destaque em exames que se utilizam de equipamentos de tomografia por emissão de pósitrons (PET/CT).
“O próximo passo após a conclusão da pesquisa é buscar parcerias no setor produtivo para disponibilizar para a sociedade radiofármacos mais eficazes para a medicina nuclear”, finaliza Gomes.
Para o físico Dr. Wagner de Rossi este prêmio coroa um trabalho que iniciou há alguns anos a partir de uma sugestão de Dr. Jair Mengatti, gerente da Radiofarmácia na época.
“Nós encaramos a sugestão como um desafio para produzir radiofármacos com microfluídica. O trabalho ainda não está concluído, pois o prêmio se refere apenas a uma parte já desenvolvida, mas demonstra que estamos num bom caminho para conseguir produzir radiofármacos a partir de um sistema inovador que vai trazer inúmeras vantagens para o processo”, conclui Rossi.
A notícia foi publicada originalmente no site do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen/Cnen), onde estão disponíveis mais fotos.
Autor: Ulysses Varela – Bolsista BGE-DA (com supervisão)
Foto: Antonio Arleques Gomes, doutorando do Ipen/Cnen/USP, durante a premiação no XII Congresso Latino-Americano de Órgãos Artificiais e Biomateriais (COLAOB/2023) / Arquivo pessoal
Fonte: Assessoria de Comunicação Social do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen/Cnen)