O Japão está enfrentando a mais grave crise de energia em décadas e quer acelerar o renascimento da sua indústria nuclear para reduzir a dependência de combustíveis fósseis importados. Contudo, o assunto ainda é considerado controverso no país asiático, mais de uma década após o acidente de Fukushima-Daiichi (março de 2011).
O que o governo quer?
Todas as usinas nucleares japonesas foram desligadas para revisões de segurança na esteira de Fukushima, e atualmente 33 são consideradas com capacidade de operar. No mês passado, nove estavam gerando eletricidade, cumprindo a meta do primeiro-ministro nipônico, Fumio Kishida, de combater a escassez de energia no país neste verão e suprir cerca de 10% do consumo de energia no inverno.
A agência nacional de segurança nuclear aprovara o reinício de outros sete reatores, mas as decisões muitas vezes enfrentam forte oposição das comunidades locais.
Em agosto passado, Kishida solicitou que essas sete unidades entrassem em operação até o verão de 2023 e reiterou que o Japão também deveria considerar construir usinas nucleares da próxima geração.
Ele também disse que as autoridades discutiriam a extensão da vida útil dos reatores existentes para além do período de 60 anos, se a segurança – princípio fundamental do setor nuclear – puder ser garantida.
Antes do acidente de Fukushima, quase um terço da geração de eletricidade do Japão tinha origem na fonte nuclear, mas no ano fiscal até março de 2022 foi de apenas de 7%.
O governo do Japão almeja que a fatia de nucleoeletricidade oscile de 20% a 22% até 2030, pois empreende esforços para alcançar a neutralidade de carbono até 2050. Além de ser limpa, a fonte nuclear ainda tem, como diferenciais, confiabilidade, segurança e firmeza.
Quais são os obstáculos?
O sucesso das ambições nucleares está nas mãos da Autoridade Reguladora Nuclear (Nuclear Regulation Authority – NRA) do Japão, que deve aprovar os planos.
“Será um desafio” religar os reatores já existentes, porque alguns estão “parados há muito tempo”, declarou Tom O’Sullivan, consultor de energia da Mathyos Advisory em Tóquio.
Conectar usinas nucleares à rede também pode ser complicado pelo “nervosismo com questões antiterroristas”, acrescentou, apontando para as preocupações com as plantas ucranianas atacadas na guerra contra a Rússia.
“Considerando os acontecimentos com a central nuclear de Zaporizhzhia, acho que a NRA provavelmente está mais sensível hoje em dia a possíveis ataques terroristas”, assinalou.
Pesquisas mostram que a relutância da população japonesa em relação a um renascimento da energia nuclear diminuiu desde que a guerra na Ucrânia provocou um forte aumento nos preços da energia no ano passado.
Entretanto, a oposição de pessoas que moram perto das centrais nucleares continuará sendo um ponto crítico, enquanto relatos de violações de segurança em um grande sítio nos últimos anos aumentaram o desconforto público, explicou o analista Hiroe Yamamoto, da sucursal japonesa da empresa Moody.
A velocidade na qual as esperanças do governo no renascimento nuclear se tornarão realidade depende das autoridades locais e, também, da popularidade do primeiro-ministro neste ano, frisou Nobuo Tanaka, presidente do comitê diretor do Fórum de Inovação para uma Terra Fria. Segundo ele, o político enfrenta problemas, com seus índices de aprovação reduzidos no ano passado por escândalos.
“Só dizer que precisamos (de mais reatores ligados) por causa dos altos preços da energia é um argumento que não pode ser sustentável”, declarou, completando que o governo também deve abordar questões relacionadas ao descarte de rejeitos radioativos.
Leia a matéria original, em inglês, aqui.
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Autor: Etienne Balmer
Imagem: Pexels
Fonte: AFP (matéria disponível no site The Japan Times)