Realizado no SIEN 2024, Workshop “O SMR brasileiro: uma proposta” gerou ampla discussão sobre pequenos reatores modulares no Brasil

Realizado no SIEN 2024, Workshop “O SMR brasileiro: uma proposta” gerou ampla discussão sobre pequenos reatores modulares no Brasil
Presidente da ABEN abre Workshop "O SMR brasileiro: uma proposta"
Presidente da ABEN, Carlos Freire Moreira / Crédito: Diego Rodrigues (clique para ampliar)

Fruto de parceria da Associação Brasileira de Energia Nuclear (ABEN) com a Amazônia Azul Tecnologias de Defesa S.A. (Amazul) e a Marinha do Brasil, representada pelo Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP), o Workshop “O SMR brasileiro: uma proposta” foi realizado na última quarta-feira, dia 28/08, nas modalidades presencial (Rio de Janeiro) e virtual, no escopo do XV Seminário Internacional de Energia Nuclear (SIEN 2024), evento promovido pela Casa Viva. Além do Presidente Carlos Freire Moreira, que abordou as vantagens e desvantagens dos pequenos reatores modulares (Small Modular Reactors – SMRs) na sessão de abertura do Workshop, a ABEN marcou presença nas figuras do 1º Vice-Presidente, Antônio Müller, dos Diretores Jairo Bastos e Olga Mafra e da Embaixadora Nuclear Nathalie Gaioti.

Especislistas da Marinha, Abdan e EPE no Workshop "O SMR brasileiro: uma proposta"
Da esquerda para a direita – Capitão de Fragata Luiz Gonzaga de Freitas Neto (DDNM); Vice-Presidente do Conselho Curador da Abdan Orpet Peixoto; e Assessor da Presidência da EPE Giovani Machado / Crédito: Bernardo Andrade (clique para ampliar)

Na primeira sessão do Workshop, sobre as Perspectivas da Tecnologia de SMR no Brasil, o Vice-Presidente do Conselho Curador da Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares (Abdan) Orpet Peixoto declarou que o caminho de SMRs ainda está sendo pavimentado, pois trata-se de um produto a ser comprovado – há cerca de 80 projetos de pequenos reatores modulares em desenvolvimento no mundo, com destaque para países como Estados Unidos, Rússia (entregou um modelo marítimo e tem outro modelo marítimo e um em terra a entregar) e China, embora todos enfrentem desafios. Em sua visão, o Brasil deveria focar em Parcerias Público-Privadas (PPP), as quais precisão de legislação específica. Orpet Peixoto também destacou duas possíveis aplicações de SMR no País: substituição de usinas térmicas a carvão e geração de eletricidade para data centers.

Na mesma sessão, o Assessor da Presidência da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) Giovani Machado discorreu sobre as oportunidades para os SMRs (padronização, simplicidade, segurança, tempo de construção e redução de custos e flexibilidade de fornecimento) e os desafios para os mesmos (incertezas tecnológicas, muitos conceitos de reatores propostos, diversificação de alternativas tecnológicas e comparações). Para ele, a energia nuclear poderá, no contexto da transição energética, assumir o papel de segurança, confiabilidade do sistema, descarbonização e transbordamento tecnológico, bem como poderá ser acoplada com outros mercados (carbono, calor industrial e hidrogênio) e proporcionar oportunidades de novos negócios. O SMR, especificamente, traz novas oportunidades para a indústria nuclear e há a necessidade de aperfeiçoamento do arcabouço institucional, legal e regulatório, inclusive considerando o potencial dos pequenos reatores modulares.

Outro tema discutido no Workshop foi a Tecnologia Nuclear dominada pela Marinha do Brasil – o Labgene, com palestra ministrada pelo Capitão de Fragata Luiz Gonzaga de Freitas Neto, da Diretoria de Desenvolvimento Nuclear da Marinha (DDNM). Além das principais características do Programa Nuclear da Marinha do Brasil (PNM) quanto ao desenvolvimento tecnológico, gestão de contratos complexos (escopo do trabalho, indústria nuclear e necessidade de importações), qualificação e gestão do conhecimento, licenciamento nuclear, salvaguardas e orçamento, o CF Neto abordou os benefícios para a sociedade que virão a reboque do Laboratório de Geração de Energia Nucleoelétrica (Labgene) – desenvolvimento de tecnologia, da indústria e de capacidades, gestão do conhecimento, treinamento, parcerias com universidades e institutos de pesquisa e geração de empregos. A tecnologia do reator do submarino poderá vir a ter uso dual, ou seja, nas áreas Militar/Defesa (propulsão nuclear) e Civil/Energia (SMRs e microrreatores).

O Workshop “O SMR brasileiro: uma proposta” também teve um painel sobre a Cadeia de Suprimentos Nacional e Parcerias Técnicas, composto pelo Diretor da ABEN e Técnico Industrial da Nuclebrás Equipamentos Pesados S.A. (Nuclep), Jairo Bastos, que enfatizou a importância de uma empresa como a Nuclep em qualquer programa de construção de SMRs. Ele também informou que existem cerca de 60 procedimentos realizados no âmbito da Medicina Nuclear, em áreas como diagnóstico por imagem, terapia, cardiologia, oncologia, endocrinologia, radioisótopos e radiofármacos e treinamentos.

Mesa "Cadeia de Suprimentos Nacional e Parcerias Técnicas" no Workshop "O SMR brasileiro: uma proposta"
Da esquerda para a direita – Diretor da ABEN e Técnico Industrial da Nuclep, Jairo Bastos; Gerente Técnico da Atech, Carlos Eduardo Leal Perez; e Gerente Técnico de Engenharia da ICN, Pedro Mauro Barbosa / Crédito: Diego Rodrigues (clique para ampliar)

A sessão também contou com palestra do Gerente Técnico de Engenharia da Itaguaí Construções Navais (ICN) e Responsável Técnico para a Montagem Eletromecânica do Labgene, Pedro Mauro Barbosa, que explicou os principais projetos da empresa: construção dos quatro submarinos convencionais de propulsão diesel-elétrica; montagem eletromecânica do Bloco 40 do Labgene, que é parte do protótipo do reator nuclear em terra que está em construção no Centro Industrial Nuclear de Aramar (Cina); obras estruturais da Seção de Qualificação e da Seção C do Submarino Nuclear Convencionalmente Armado do Brasil (SCPN); e preparação da construção do SCPN em si, que é o objeto precípuo do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub).

O Gerente Técnico da Atech, Carlos Eduardo Leal Perez, que também fez parte do painel, comentou sobre as parcerias estratégicas na área de Instrumentação e Controle (I&C) para Small Modular Reactors e os respectivos desafios com relação à Arquitetura, Tecnologia e Equipamentos e Fabricação e Instalação. Em seu entendimento, é necessário ter uma cadeia de suprimentos qualificada, prazos podem ser prejudicados com a falta de engajamento da cadeia de suprimentos e a falta de maturidade na cadeia de suprimentos pode acarretar em custos subestimados do design do reator por parte dos desenvolvedores.

Na parte da tarde, ocorreram, sucessivamente, palestras sobre Capacitação de Pessoal – Planejamento de Médio Prazo – 2040 (Dra. Inayá Lima, Coordenadora da Pós-Graduação em Engenharia Nuclear do Instituto Alberto Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro – Coppe/UFRJ), Modularização (Marcelo Bonilha, Diretor-Presidente da EBSE Engenharia de Soluções), Qualificação de Operadores SMRB (Capitão de Mar e Guerra Enéas Ervilha, Superintendente do Centro de Instrução e Adestramento Nuclear de Aramar – Ciana), Operação e Perspectivas para os SMR no Brasil (Marcelo Gomes, Chefe da Assessoria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Expansão da Eletronuclear) e Proposta de SMR Nacional – SMRB (Vice-Almirante Carlos Alberto Matias, Diretor Técnico da Amazul).

Os especialistas discorreram sobre os desafios e oportunidades que o campo de Small Modular Reactors pode apresentar na formação e capacitação de pessoal, na sinergia entre instituições (como exemplo, o curso pioneiro em SMRs concluído em julho passado por estudantes da Coppe/UFRJ, da Escola Politécnica da UFRJ e do Instituto Militar de Engenharia – IME em Aramar), na descarbonização, na indústria e no atendimento a demandas off-grid, entre outros.

Encerramento do Workshop "O SMR brasileiro: uma proposta", realizado no SIEN 2024
Da esquerda para a direita – Vice-Almirante Carlos Alberto Matias (Amazul), Marcelo Gomes (Eletronuclear), Inayá Lima (Coppe/UFRJ), Carlos Freire Moreira (ABEN), Marcelo Bonilha (EBSE) e Capitão de Mar e Guerra Enéas Ervilha (Ciana) / Crédito: Bernardo Andrade (clique para ampliar)

Segundo o Diretor Técnico Matias, a proposta da Amazul é que o SMR brasileiro seja do tipo iPWR (aproveitamento da tecnologia dominada e aprimorada); potência na faixa de 20 a 100 MWe; combustível HALEU (concentração de U235 abaixo de 20%); principais aplicações na geração termoelétrica (Sistema Interligado Nacional – SIN e sistemas isolados), calor/eletricidade industrial, dessalinização, produção de H2 e combustíveis sintéticos; financiamento – fomento à inovação (modelos e análise de retorno); e a realização de um novo Workshop ABEN – Marinha do Brasil – Amazul. Para ele, trata-se de uma tarefa de muitos e requer liderança conduzida pelo Comitê de Desenvolvimento do Programa Nuclear Brasileiro (CDPNB).

No encerramento do Workshop, que foi realizado no 2º dia do SIEN 2024, o Presidente da ABEN ressaltou que os resultados dos trabalhos vão além do tema. “É preciso que haja regulação firme, segurança jurídica e base consistente financeira, de conhecimento e do elemento humano”, enfatizou. Carlos Freire Moreira encerrou o evento informando que a segunda parte do Workshop “O SMR brasileiro: uma proposta”, prevista para ser realizada em novembro, deverá abranger temáticas como licenciamento, financiamento e comunicação.

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+ ABEN participa do 3° Congresso Latino-Americano das Engenharias e o 4° Encontro das Engenharias do Brasil
+ ABEN comparece ao evento Diálogos do G20 – Transições Energéticas, promovido pelo MME

Foto em destaque: Da esquerda para a direita – Diretor da ABEN Jairo Bastos; Diretora da ABEN Olga Mafra; 1º Vice-Presidente da ABEN, Antônio Müller; e Presidente da ABEN, Carlos Freire Moreira / Crédito: Bernardo Andrade