Casos desafiadores da contemporaneidade no uso da radiação ionizante para preservar acervos culturais foram tema de palestra no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, na tarde da última sexta-feira, 10 de novembro, como parte das comemorações pelos 67 anos da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen). Na sequência, outro tema de apresentação foi o Museu do Conhecimento Nuclear, iniciativa para promover a ciência e a tecnologia nucleares e mostrar sua importância para a sociedade em diversas áreas: da geração nucleoelétrica à saúde, passando pela indústria, meio ambiente, agricultura, entre outros setores.
Na abertura das atividades, Fábio Scarano, diretor de Sustentabilidade do Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG), Organização Social que administra o Museu do Amanhã, destacou a abertura do espaço para as discussões, enfatizou que o museu se propõe a criar diálogos sobre desejos e vontades, desenvolve esforços no sentido de manter a imaginação e, ainda, como é importante o trabalho voltado para energia desenvolvido pela Cnen. “A ciência trabalha para um amanhã melhor. Também aproveito para parabenizar a instituição pelo seu aniversário”, afirmou.
O presidente da Cnen, Francisco Rondinelli Jr., por sua vez, enfatizou o quanto a instituição é grata “pela abertura desta parceria de futuro com a ciência, com a tecnologia nuclear e com a construção de futuro”, referindo-se ao espaço disponibilizado para as apresentações, seguidas de perguntas abertas ao público, e a forma como a instituição foi bem recebida pela equipe do Museu do Amanhã, tendo a programação sendo realizada no espaço Observatório do Amanhã.
Tecnologia nuclear que promove a arte
Os raios gama se tornaram de grande importância para a preservação de acervos culturais e sua utilização já consolidada no país demonstra que a ciência nuclear está mais próxima dos cidadãos do que se pode imaginar. A irradiação de obras de arte e objetos histórico-culturais com uso dos raios gama se tornou uma alternativa poderosa como primeira etapa de tratamento no processo de restauro.
As restauradoras Vivian Freire e Fernanda Cascardo, da empresa Conservare, trouxeram casos peculiares de obras que passaram pelo processo de irradiação. “Não sei se vocês têm ideia da dimensão de quanto este trabalho é importante para a arte”, disse Fernanda.
O desenvolvimento de recursos e aplicações específicas para eliminar infestações por micro-organismos gera produção de conhecimento científico, resultados de destaque do país no cenário mundial, publicações e inúmeros trabalhos científicos, profissionais formados e cada vez maiores desafios. Na disseminação da tecnologia, Pablo Vasquez, do Centro de Tecnologia das Radiações do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen/Cnen), afirma que o maior desafio foi convencer restauradores e conservadores da efetividade da técnica.
Desde então, foram mais de 50 mil itens preservados com esta tecnologia, a partir da parceria com o instituto, unidade técnico-científica da Cnen em São Paulo, que desenvolve trabalho representativo no país, formando pesquisadores em níveis de mestrado e doutorado. Segundo ele, além do aspecto do pioneirismo, os trabalhos de alto nível atingem diretamente o usuário final.
Na Europa, entre outros países, França, Holanda, Itália, Romênia, Croácia utilizam a tecnologia amplamente. No Brasil, a instalação utilizada para o processo de irradiação é o Irradiador Multipropósito de Cobalto-60, desenvolvido com tecnologia inteiramente nacional e situado no Ipen/Cnen. O apoio da Agência Internacional de Energia Nuclear (AIEA) tem sido importante para a divulgação da tecnologia.
Há materiais diversos combinados na mesma obra e, em cada caso, é desenvolvido todo um estudo para o restauro. É preciso entender os processos, materiais utilizados e os tipos de contaminação por micro-organismos. A obras são irradiadas diretamente em caixas, de acordo com o tempo recomendado. Os materiais não ficam radioativos – dúvida que sempre aparece quanto o assunto é apresentado – e há uma série de vantagens do ponto de vista da utilização. Após adequada higienização, as obras podem retornar de forma saudável para o ambiente de exposição.
Museu do Conhecimento Nuclear
As múltiplas possibilidades de divulgação científica, de promoção da ciência, do conhecimento e de valorização do patrimônio científico e tecnológico da área nuclear foram aspectos de destaque na palestra de Antônio Carlos de Abreu Mol, tecnologista do Instituto de Engenharia Nuclear (IEN/Cnen). A apresentação teve como título Museu do Conhecimento Nuclear: promovendo o interesse pela ciência nuclear e sua relação com a sociedade.
O projeto do Museu, virtualizado, pretende despertar o interesse pela ciência, promovendo reflexão e olhar crítico e aproximação da população com a ciência nuclear. Para isso, diversos trabalhos estão sendo desenvolvidos: simuladores em realidade virtual; visitas virtuais, como por exemplo ao reator nuclear de pesquisas Argonauta e ao ciclotron, ambos no IEN/Cnen; jogos e vídeos.
Segundo Mol, para realizar tantas possibilidades de trabalhos, a equipe do Museu do Conhecimento Nuclear também pretende ter um acervo físico e itinerante e compor exposições em diversos espaços. Há três núcleos de trabalho do grupo: educação, desenvolvimento tecnológico e museologia, este último incorporado há cinco meses. Está sendo criada uma plataforma online do Museu e sobre a qual ele antecipou algumas novidades, como a Cidade da Ciência, um ambiente imersivo virtual, onde será possível acessar uma videoteca, biblioteca e diversos outros ambientes da cidade.
“É um projeto que nasceu a partir da preocupação com a educação como um todo e da experiência com o desenvolvimento tecnológico para a área de divulgação científica; fruto de um trabalho de mais de 15 anos, voltado ao público jovem e expandido a diversos públicos, como espaço de produção de conhecimento, tecnologia e inovação, com imensas possibilidades”, descreveu Mol. Há bolsistas e alunos envolvidos, compondo a equipe. “Queremos chegar na capacitação de professores da rede pública e temos portas abertas para isso; estou muito motivado”.
Ao finalizar a programação comemorativa, o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Cnen, Wilson Calvo, afirmou o quanto toda a direção da Cnen está orgulhosa com relação ao trabalho que vem sendo desenvolvido e aos projetos em curso. Agradeceu aos anfitriões da programação que encerrou a data comemorativa da autarquia, a todos os servidores e anunciou que haverá novidades para a Conferência de Ciência e Tecnologia, que será realizada em junho de 2024, em Brasília.
A notícia foi publicada originalmente no site da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen).
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Fotos: Douglas Troufa/Cnen
Fonte: Assessoria de Comunicação Social da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen)