O engenheiro mecânico e ex-colaborador da Eletronuclear Drausio Atalla, que foi superintendente responsável pela operação das usinas Angra 1 e Angra 2, divulgou interessantes dados que correlacionam Produto Interno Bruto (PIB), Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e consumo de eletricidade, detalham características e necessidades da matriz elétrica brasileira e discorrem sobre políticas conduzidas por países desenvolvidos.
Segundo Drausio Atalla, o consumo atual per capita de eletricidade no Brasil é de aproximadamente 2.500 quilowatts-hora (kWh)/ano, quantitativo estável há muito tempo, o que nos “condena” à condição de eterno País em desenvolvimento. Desse modo, salienta Atalla, para o Brasil efetivamente se tornar uma nação desenvolvida, será preciso triplicar o uso de eletricidade, atingindo um consumo individual por ano de 7.500 kWh.
O engenheiro ainda pontua sobre a ligação entre aumento de PIB e de consumo de eletricidade, que é “eletricidade de aproximadamente um para um”. E completa: “Dez por cento de aumento de consumo de eletricidade em um país representa 10% de aumento de PIB”.
“Nosso PIB per capita é de US$ 9.400,00 e o menor PIB per capita para alcançarmos o mundo desenvolvido é de US$ 30.000. O PIB absoluto não reflete o estágio econômico de um país, pois precisa ser ponderado pela população”, ressalta Drausio Atalla.
Perfil da matriz elétrica brasileira
Na visão de Atalla, o Brasil precisa de 170 mil megawatts-elétricos (MWe) de fontes de eletricidades concentradas; contínuas; com altos fatores de capacidade (superiores a 80%); localizadas próximas aos centros de consumo ou, pelo menos, não distantes; acessíveis e disponíveis. “Considerando um custo médio de US$ 4 bilhões para cada bloco de mil MWe de novas gerações, o investimento total se situaria na ordem de US$ 600 bilhões. Entretanto, tal investimento poderia acrescer US$ 4 trilhões em nosso PIB, ou aumentá-lo – per capita – em US$ 7.500 ao ano”, explica.
A despeito de os recursos serem vultosos, devem ser considerados investimentos estratégicos, e não gastos. “Investir US$ 600 bilhões em um período de dez a 15 anos significa um investimento anual de US$ 40 bilhões a US$ 60 bilhões, ou seja, 2% a 3% do nosso PIB. Nenhum investimento em infraestrutura traria tal resultado, por custo tão baixo e em tão pouco tempo. Americanos, chineses, japoneses, alemães, ingleses, franceses e todos os demais países ricos fizeram exatamente isso”, argumenta. E finaliza: “tem país que é cego”.
Comentário da Associação Brasileira de Energia Nuclear (ABEN):
As observações do engenheiro Drausio Atalla, que tem na bagagem inúmeros e relevantes serviços prestados ao setor nuclear brasileiro, em especial na Eletronuclear, empresa operadora das usinas nucleoelétricas brasileiras, são ainda mais cirúrgicas em um ano eleitoral, no qual novas propostas e políticas públicas aparecem mais frequentemente. Atalla aborda um aspecto fundamental para o desenvolvimento do País: eletricidade, um insumo realmente básico.
Como ele aponta, se o Brasil precisa de 170 mil MWe de energia elétrica contínua, com alto fator de capacidade, acessível, disponível e localizada próxima aos centros urbanos, não pode jamais prescindir da fonte nuclear, que ainda possui as vantagens de ser limpa, pois ajuda a descarbonizar o planeta, e de agregar tecnologia de ponta, auxiliando no desenvolvimento de uma nação.
Nesse sentido, os planos Nacional de Energia (PNE) 2050, que prevê a expansão da geração nuclear em mais oito a dez gigawatts (GW), e o Decenal de Expansão de Energia (PDE) 2031, o qual contempla mais uma usina nuclear dentro das previsões do PNE (além da conclusão de Angra 3), nortearão a política do setor para as próximas décadas.
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Foto: Divulgação
Matéria redigida pela ABEN em parceria com o engenheiro mecânico Drausio Atalla