Em entrevista concedida à Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben) na nova sede da Indústrias Nucleares do Brasil (INB), localizada próxima à Zona Portuária do Rio de Janeiro, o presidente Carlos Freire Moreira discorreu sobre diversos assuntos, como os desafios e as conquistas à frente do cargo, que ocupa desde fevereiro de 2019; a retomada da mineração de urânio em Caetité/BA; o andamento do Projeto Santa Quitéria/CE, no qual urânio está associado ao fosfato como subproduto; o avanço na área de enriquecimento; as barragens de Rejeitos e de Águas Claras da empresa em Caldas/MG e as demandas que a empresa deverá atender no escopo do Plano Nacional de Energia (PNE) 2050.
Acompanhado de Rogério Mendes Carvalho e de Rogério Corrêa Borges, diretor de Recursos Minerais e diretor Técnico de Enriquecimento Isotópico (respectivamente), e do assessor de Licenciamento Nuclear e Ambiental, Salvaguardas, Segurança e Qualidade, Edmundo de Aquino Ribeiro Filho, o presidente da INB forneceu um panorama detalhado da empresa, destacando reestruturações internas feitas no sentido de profissionalizá-la ainda mais e a missão essencial de trabalhar todo o ciclo do combustível nuclear e de participar ativamente do desenvolvimento do Programa Nuclear Brasileiro (PNB).
Confira, abaixo, a entrevista com o presidente da INB, Carlos Freire Moreira.
O senhor é presidente da INB desde fevereiro de 2019, empresa na qual também ocupou o cargo de diretor Técnico de Enriquecimento Isotópico entre março de 2005 e maio de 2008. Quais principais desafios e conquistas à frente da INB?
Assumi em 1º de fevereiro de 2019 e tinha alguns grandes desafios. Um dos maiores era a retomada da mineração em Caetité/BA. Ela encontrava-se interrompida por diversas razões, mas a principal estava ligada à questão de licenciamento. Foi um trabalho muito árduo, no qual reestruturamos a Diretoria de Recursos Minerais (DRM), sobretudo trazendo uma visão mais profissional. Foi um grande desafio vencido depois de dois anos de muita luta, principalmente por conta da pandemia e da dificuldade de recursos. Assim, iniciamos a lavra em Caetité em 1º de dezembro de 2020.
Com relação ao segundo grande desafio, cito a retomada do Projeto Santa Quitéria/CE. Essa jazida foi descoberta na década de 70 e em alguns momentos ocorreram tentativas para dar prosseguimento ao projeto. Em 2008, a Galvani ganhou a licitação para desenvolver o projeto e implementar a mineração, mas diversas questões postergaram os planos. De 2016 a 2017, a INB fez um planejamento estratégico e, dentro de sua visão de futuro como empresa, um dos grandes objetivos era sair da dependência do Orçamento da União, algo que ainda estamos viabilizando. Nesse contexto, o Projeto Santa Quitéria foi visto como garantidor desse salto. Esse projeto é conduzido pelo Consórcio Santa Quitéria, formado pela INB junto com a empresa Galvani.
Em Caetité, atualmente, almejamos chegar a 256 toneladas/ano de concentrado de urânio. A unidade de Caetité precisa ser expandida para alcançar a produção de 800 toneladas por ano. Somado ao Projeto Santa Quitéria, o País se tornará autossuficiente, colocando-o como player mundial.
A INB é pela nossa Constituição responsável pelo fornecimento do Combustível Nuclear para as Usinas Nucleares do Brasil. Portanto, precisa atuar em todo o Ciclo do Combustível (Mineração, Conversão, Enriquecimento, Reconversão, Pastilhas e Elemento Combustível). Dentre essas etapas do ciclo, a conversão agrega pouco valor por ser complexa e necessitar de escala para ser economicamente viável. Então, a INB procurou enfatizar a produção mineral e as demais etapas. Temos que atender inicialmente as demandas de Angra 1 e 2, o que ainda não acontece, e de Angra 3, cuja previsão de entrada em operação é no final de 2026. Ainda temos que vislumbrar o Plano Nacional de Energia (PNE) 2050, prevendo a expansão da geração de energia pela fonte nuclear em mais 8 a 10 GW, e o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) 2031, que já contempla mais uma usina nuclear dentro das previsões do PNE. Neste contexto e considerando estas demandas, necessitamos de uma produção de urânio em Caetité mais expressiva.
O Projeto Santa Quitéria cobre a necessidade de urânio e viabiliza a possibilidade de exportação no futuro. Iniciamos conversações com o Governo do Ceará para melhorar nosso Memorando de Entendimento, viabilizando a retomada do projeto com a Galvani a partir do segundo semestre de 2019.
Estruturamos um sistema de governança firme, com reuniões semanais, mensais e semestrais, entre diversos atores da INB e Galvani. Criamos na INB uma Assessoria de Licenciamento que adotou nova postura com órgãos licenciadores e reguladores – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e instituições estaduais, que mantendo uma condução transparente, procurou entender as demandas daqueles órgãos. Recentemente, obtivemos a licença do Ibama para dez anos de operação da Fábrica de Combustível Nuclear (FCN) em Resende/RJ, algo inédito, bem como a renovação da licença de operação da CNEN. Além disso, demos entrada no Estudo de Impacto Ambiental (EIA/Rima) de Santa Quitéria.
Quais outros desafios e conquistas pode destacar?
Embora se fale algumas vezes de forma negativa com relação ao descomissionamento, muito foi feito nessa área com pouco recurso. Com base na reestruturação da área mineral, implementamos as superintendências de Descomissionamento, Operação/Produção e Engenharia/Projetos, atuando desta forma em todo o ciclo da mineração. Outro grande desafio a ser vencido é a inauguração da 10ª cascata de ultracentrífugas, destinadas ao enriquecimento de urânio na Fábrica de Combustível Nuclear (FCN) da INB, localizada em Resende, com previsão de realização até dezembro de 2022. A inauguração da 10ª cascata se reveste de grande significado e simbolismo, pois ela representará a conclusão do ciclo da 1ª fase da implantação da planta de enriquecimento de urânio da FCN. São muitas as dificuldades a serem superadas, porém a Diretoria Técnica de Enriquecimento Isotópico – DTE vem trabalhando firme em conjunto com o Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP), desenvolvedor e fabricante das ultracentrífugas. É como se costuma dizer: “O improvável já fizemos, agora estamos trabalhando em cima do impossível”. Com a entrada em operação da 10ª cascata, a INB será capaz de atender 70% da demanda de urânio enriquecido para as recargas anuais de Angra 1, sendo, atualmente, que com a 9ª cascata, recentemente inaugurada, alcançamos 65% da referida demanda. A etapa de enriquecimento do urânio dentro do ciclo do combustível nuclear é a que maior valor agrega ao produto final e a INB vem buscando reduzir o tempo necessário à implantação da Usina Comercial de Enriquecimento de Urânio (UCEU), o que deverá contar com a participação do CTMSP, que é nosso parceiro neste importante empreendimento.
No ano de 2000, resultado de decisão presidencial, foi assinado um contrato com reserva de tecnologia entre a INB e a Marinha do Brasil visando a implantação de uma usina-piloto de enriquecimento de urânio por meio do processo de ultracentrifugação, a fim de demonstrar que a parceria entre as duas instituições seria capaz de alcançar a implantação de uma usina em escala industrial, utilizando as ultracentrífugas produzidas pelo CTMSP. Esta primeira fase, composta de dez cascatas de ultracentrífugas, recebeu a designação de 1ª fase de implantação da planta de enriquecimento de urânio. Cabe dizer que as ultracentrífugas foram desenvolvidas a partir de tecnologia autóctone pela Marinha do Brasil e o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN/CNEN).
Atualmente, após a inauguração de nove cascatas de ultracentrífugas, é possível afirmar que o objetivo da 1ª fase de implantação da planta de enriquecimento de urânio foi alcançado. A partir da conclusão da instalação da usina-piloto, o próximo passo é a Usina Comercial de Enriquecimento de Urânio, composta por 30 cascatas, o que possibilitará o alcance da autossuficiência nacional no enriquecimento de urânio. A 1ª fase (10 cascatas), conforme planejado, demonstrou o sucesso da parceria INB e Marinha do Brasil na busca pelo estabelecimento das condições necessárias à implantação, operação e manutenção de uma usina de enriquecimento de urânio em escala industrial. No estágio atual, estamos avançando nesse projeto da 2ª fase, por meio de uma parceria com a Amazônia Azul Tecnologias de Defesa S.A. (Amazul) e a expectativa é que até o final de 2022 seja concluído o projeto de detalhamento da UCEU para a contratação de sua implantação. Com o início da operação da UCEU, conseguiremos atender as necessidades das recargas anuais de Angra 1, 2 e 3.
Em entrevista concedida à Aben em julho de 2021, o diretor de Recursos Minerais, Rogério Mendes Carvalho, informou as metas da empresa em alcançar a produção máxima de concentrado de urânio (U3O8) de 800 toneladas por ano na Província Uranífera de Lagoa Real (Caetité). Em que passo está a produção no local?
A produção está acontecendo, principalmente na mineração. Temos uma usina de beneficiamento com etapas de tratamentos físico e químico. A usina de beneficiamento ficou paralisada por mais de cinco anos. Retomar uma operação contínua é diferente de fazer testes. A exigência do processo de beneficiamento químico é muito grande. É importante que possamos separar a produção da mina e a da usina de beneficiamento. Em termos de operação de mina, ao longo de 2021 realizamos praticamente 642 mil m³ de material, entre minério e estéril – equivalente a 1.791.000 toneladas de material. Em julho de 2021, alcançamos a produção planejada em torno de 75 mil m³ e, nos três meses subsequentes, batemos recordes sucessivos. Chegamos em setembro de 2021 com 79.173 m³, obtendo o planejado para a mina. Fizemos o ramp-up de forma bastante satisfatória. Já em termos de produção de concentrado de urânio na usina de beneficiamento, o ritmo em 2021 foi de 53,8 t/ano. O planejado era 100 t. Não atingimos a meta, essencialmente por causa da Covid e de questão relacionada a um insumo essencial, o ácido sulfúrico. Tivemos escassez no mercado em uma ponta e, em outra, um aumento brutal do preço. Precisamos ter uma operação calibrada entre custos e receitas. Para 2022, planejamos o ritmo de 228 toneladas.
Por sua vez, o Projeto Santa Quitéria foi muito debatido em simpósio na Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC) e tivemos grande satisfação em ver como está repercutindo em diversos setores do estado. A região tem um dos menores IDH do Ceará, sendo oportuno levar um projeto dessa envergadura para aquele local. A geração de emprego é significativa. No dia 28 de setembro de 2020, renovamos o Memorando de Entendimento com os diversos compromissos do estado com relação à implantação do projeto.
Como a INB se prepara para atender às demandas de combustível nuclear atreladas ao Plano Nacional de Energia (PNE) 2050, que prevê de oito a dez gigawatts (GW) de nova capacidade instalada de energia nuclear?
Acredito que haverá um mix entre Small Modular Reactors – SMR (pequenos reatores modulares) para regiões mais remotas e com demanda contida. Oito GW são basicamente dois sítios com Angra 1, 2 e 3. É uma demanda alta de urânio e sabemos que o mercado global deve se aquecer porque existe um movimento ambientalista pró-nuclear, no qual a fonte nuclear pode colaborar no combate aos gases de efeito estufa. Em que pese que tenhamos muitos recursos de urânio, o Brasil precisa comprovar isso, transformando-os em reservas conhecidas. Fala-se muito que somos o 9º país em recursos de urânio e o momento é muito oportuno para que essa discussão venha à baila. Não é algo trivial, mas tanto a DRM quanto o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) estão realizando trabalhos de prospecção e exploração (pesquisa geológica), para ampliar o conhecimento e estabelecer os recursos e as reservas minerais.
Em relação ao PNE, é importante dizer que 2027 é o grande ano da mudança de cenário. Nesse ano estaremos com capacidade plena e expandida em Caetité para 800 t e mais 2.300 t em Santa Quitéria. A demanda de urânio para atender Angra 1 e 2 é de 455 t. Quando tivermos Angra 3, precisaremos de 757 t. Somente Caetité expandido atenderia essas usinas. E a nova planta nuclear declarada pelo ministro de Minas e Energia até 2031 entraria com cerca de mais 2 mil MW. Se enxergarmos o PNE de dez GW implantado ao longo de cinco períodos – dois GW em cada -, ainda assim a nossa capacidade de 3.100 t seria suficiente para atender o Plano até 2043. Nesse ano, teríamos a exaustão do Projeto Santa Quitéria e estaríamos com Caetité com 800 t. Teríamos, portanto, uma lacuna a ser suprida por novos recursos minerais. Temos que começar a planejar desde agora a reposição do material.
A etapa de enriquecimento de urânio é a mais sensível e com mais segredos tecnológicos do ciclo do combustível nuclear. No dia 26/11/21, a INB inaugurou, em Resende, a 9ª cascata da Usina de Enriquecimento Isotópico de Urânio. Qual a importância desse marco sob os aspectos tecnológico e financeiro?
A tecnologia necessária ao enriquecimento de urânio é sensível, uma vez que pode ser utilizada para fins proscritos, cabendo dizer que apenas um grupo seleto de países no mundo detém tal tecnologia. No nosso caso, por termos um contrato com reserva de tecnologia, a Marinha do Brasil é a responsável pelo desenvolvimento da tecnologia das ultracentrífugas e a INB é a operadora da planta de enriquecimento instalada na FCN.
A 9ª cascata de ultracentrífugas é um marco no avanço da 1ª fase de implantação, pois demonstra que estamos próximos de seu fim, o que ocorrerá, conforme as previsões atuais até dezembro de 2022, quando teremos a inauguração da 10ª e última cascata. Ao longo desta primeira fase, a Marinha do Brasil prosseguiu no desenvolvimento das ultracentrífugas, na busca de equipamentos de maior produtividade, o que pode ser comprovado pelo melhor rendimento das últimas cascatas inauguradas. Ressalta-se que, mesmo durante o período de pandemia, as atividades de fabricação e instalação das ultracentrífugas prosseguiram, viabilizando a inauguração da 9ª cascata, cabendo dizer que uma cascata é composta, não só pelas ultracentrífugas, mas também por um conjunto de sistemas auxiliares de infraestrutura que viabilizam o seu funcionamento.
A UCEU será implantada de forma modular, o que nos favorece. A previsão é que a 2ª fase seja implementada em três etapas distintas, com prazo atual de conclusão para 2037. Ao se alcançar uma capacidade de produção de 300 mil Unidades de Trabalho de Separação (UTS), o que está previsto para ocorrer em 2033, teremos alcançado a autonomia para a demanda das recargas anuais de Angra 1 e 2. Em 2037, ao alcançarmos 500 mil UTS, teremos condições de acrescentar a demanda anual de Angra 3 no pacote. Contudo, temos avaliado as possibilidades de se antecipar a conclusão para a implantação da UCEU, o que incluirá conversas com a Marinha do Brasil, levando em consideração que Angra 3, pelo cronograma atual, entrará em operação em 2026. Não há dúvidas que dominamos essa tecnologia avançada, mas a velocidade de implantação será estabelecida por nós. Como já mencionado, a Amazul trabalha em um projeto de detalhamento para a 2ª fase, em termos de infraestrutura, considerando 30 cascatas, não se afastando a possibilidade de aumento do número final de cascatas. Resta afirmar que tudo isto só é possível uma vez que o grande objetivo da 1ª fase foi alcançado, ou seja, demonstrar que a ultracentrífuga desenvolvida na parceria Marinha-IPEN pode ser utilizada de forma comercial e a INB já adquiriu o know-how de instalação e de operação.
Com o avanço no enriquecimento de urânio e progressos em outras áreas, acredita que o Brasil se consolida como um player mundial do setor nuclear?
O Brasil ocupa um papel realmente relevante. Com a produção de Santa Quitéria, a expansão de Caetité, e mantido o cenário de produção atual, teríamos 5% da produção mundial de concentrado de urânio. Poucos países têm reservas do mineral e dominam a tecnologia do ciclo do combustível nuclear. O Brasil, por meio da Marinha do Brasil, detém a tecnologia de conversão, mas não a realiza em escala industrial. Neste sentido, temos conversado com a Marinha do Brasil, sob o respaldo do nosso Memorando de Entendimento, assinado em novembro de 2020 entre a INB e a Diretoria-Geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha (DGDNTM), no sentido de avançarmos nas discussões acerca da conversão, uma vez que para a implantação de uma planta de conversão industrial, modelo idêntico ao das ultracentrífugas pode vir a ser utilizado. Sempre buscamos a sinergia entre P&D, que a Marinha realiza, com a capacidade industrial da INB na execução de processos. Na visão da INB, a instituição Marinha do Brasil, do ponto de vista de desenvolvimento tecnológico, é fundamental. Acreditamos que a INB também tem uma contribuição muito grande nessa parceria sinérgica ao assumir o encargo da industrialização, fazendo com que a Marinha possa se dedicar integralmente na P&D do setor nuclear. Cabe ressaltar que a INB é uma empresa pública que trabalha para o País.
A que atribui o sucesso da INB em ter recentemente obtido, junto à CNEN, a renovação da Autorização de Operação Permanente (AOP) para as fábricas de Enriquecimento e Reconversão e Pastilhas, situadas em Resende?
Como brevemente já comentado, dois fatores têm contribuído para isso: uma postura objetiva e transparente em relação às demandas dos órgãos reguladores e o desempenho das unidades no cumprimento das condicionantes. Providenciamos condições de operação que atendam aos requisitos de licenciamento. O mérito é das unidades para mantermos as licenças e por termos construído uma relação muito boa com os órgãos reguladores.
Qual a importância para a INB de um auditor independente em Inspeções de Segurança Regular ter garantido a estabilidade das barragens de Rejeitos e de Águas Claras, da Unidade em Descomissionamento de Caldas/MG (UDC)? Em sua visão, demonstra que a principal preocupação da INB, assim como das demais empresas e instituições do setor nuclear de modo geral, é com a segurança?
Quando assumi a presidência da INB, tinha acabado de ocorrer o rompimento da barragem de Brumadinho. Nossa Comunicação teve que trabalhar muito porque as pessoas confundem a nossa barragem com uma barragem de mineração. A barragem da INB foi projetada e construída para receber aqueles rejeitos. Ela não foi construída com o próprio rejeito, como é o caso das barragens de mineração. Seu método construtivo contemplou um núcleo de solo argilo-siltoso, no interior dos 450 m do seu maciço, equipado ainda com filtros de areia e colocação de rochas de maior tamanho para proteger as faces do maciço, no método conhecido como “enrocamento”. Interessante ressaltar que o local escolhido é constituído de rochas argilosas, impermeáveis, ambiente este que impede percolações importantes de efluentes líquidos, em direção às águas subterrâneas naturais.
Foi feito um trabalho exaustivo, gastamos muitos recursos, mas tínhamos um problema. Em função de Brumadinho e dos processos decorrentes, não conseguíamos ter uma auditoria que concluísse que a barragem tinha estabilidade. A última ocorrera em 2016. Depois dos eventos que aconteceram em Mariana e Brumadinho, as empresas de consultoria ficaram com receio. Hoje em dia temos uma barragem cuja estabilidade está atestada por um especialista. O certificado do auditor externo confirma o bom trabalho que foi feito e a nossa certeza de que é uma barragem segura.
Além disso, nossa barragem armazena uma quantidade pequena de rejeitos, apenas dois milhões de m³. Agora temos a declaração de condição de estabilidade tanto para a barragem de Rejeitos quanto para a barragem de Águas Claras, que foi a barragem utilizada no passado como fonte d’água para o processo industrial. A cultura de segurança do setor nuclear é muito forte. Outro aspecto é que trabalhamos em conformidade com a lei, os requisitos da CNEN, Ibama e da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) para a barragem de Águas Claras e a CNEN para a de Rejeitos. Outro ponto é o conceito de ESG – Environmental, Social and Governance. Sobre governança, criamos um grupo para fazer auditorias nas estruturas geotécnicas da área mineral. O social é dar a visibilidade que temos dado a esses temas, inclusive com prefeituras. E o ambiental é a preocupação da empresa nessa área.
Qual a importância da parceria da INB com a Aben?
Temos o compromisso de participar e ajudar no crescimento do setor nuclear, o que casa com instituições como a Aben. Uma empresa como a INB tem constitucionalmente a missão de trabalhar todo o ciclo do combustível nuclear, atrelada a ser uma empresa partícipe do desenvolvimento do Programa Nuclear Brasileiro (PNB). Por isso, não pode se furtar a não estar presente em fóruns do setor. E existe uma distinção muito grande da Aben para outras instituições. A parceria com a Aben se insere dentro do conceito da INB de ser uma empresa que tem um desenvolvimento tecnológico muito forte. A parceria com a Aben é extremamente profícua. Sempre tivemos um diálogo muito franco e oportuno com representantes da associação, pautado na importância dessa parceria do mais alto nível. A INB sempre estará aberta a atender as demandas da Aben, como as de outras instituições. Vamos em frente!