Energia nuclear brasileira quer crescer

Energia nuclear brasileira quer crescer

Entraves burocráticos e falta de regulamentação mais clara, porém, afastam investidores

O potencial de investimento e negócios do setor de energia nuclear foi o principal tema do segundo dia do XIII Seminário Internacional de Energia Nuclear, realizado nesta quarta (09/11), na sede da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), no Centro da capital fluminense. O moderador do Painel 1 (Novas plantas nucleares no Brasil: modelo de negócios e financiamento, sítios e potencial de investimentos), o presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (ABEN), Carlos Mariz, informou que o consumo médio de energia elétrica no Brasil é de 2.500 kW por pessoa/ano. Ele avalia que deveria ser de pelo menos 5 mil kW. “Temos que mudar os paradigmas para acelerar a construção de mais usinas nucleares. Foram mapeados 40 sítios para instalação de fontes nucleares, mas nada foi feito”, criticou.

O superintendente de Planejamento Estratégico e Comercialização da Indústrias Nucleares do Brasil (INB), João Carlos Tupinambá, foi um dos que analisou as perspectivas, oportunidades de parcerias e mercado internacional, com a flexibilização da mineração de urânio. Ele falou sobre o Projeto Santa Quitéria, implementado no Ceará, que tem a previsão de produzir anualmente 1.050.000 toneladas de fertilizantes fosfatados, 220.000 toneladas de fosfato bicálcico e 2.300 toneladas de concentrado de urânio. “Isso muda o patamar do Brasil. Certamente vamos precisar de parceiros. Nesse sentido, a Medida Provisória (MP – 1.133, que autoriza a participação da iniciativa privada na exploração de minérios nucleares) é boa, mas tem uma série de gaps. Falta regulamentar”, avaliou.

Karla Lepetitgaland no SIEN 2022
Karla Lepetitgaland, coordenadora de P&D+I da Eletronuclear / Divulgação

A cadeia produtiva da energia nuclear foi o tema do Painel 3. A coordenadora de P&D+I da Eletronuclear, Karla Lepetitgaland, analisou a dificuldade de se conseguir fornecedores no Brasil. Alguns dos entraves, listados por ela, são: o baixo grau de nacionalização do setor, poucos fornecedores, falta de capacitação de mão de obra, o custo operacional e a variação cambial (que pode estourar um orçamento de um dia para o outro). Tudo isso tem impactado a construção da usina Angra 3. A solução, porém, parece estar muito mais perto do que se pensava. “Derrubamos muitos mitos. Hoje compramos 84% dos nossos itens no mercado brasileiro. Decidimos apostar e investir nas microempresas. Muitas vezes, pela escala pequena, muitas grandes indústrias não se interessam em serem nossas fornecedoras. Estamos trabalhando, junto com o Sebrae, para desmistificar essa ideia de que é muito difícil para uma pequena empresa fornecer para o setor de energia nuclear”, disse.

O XIII Seminário Internacional de Energia Nuclear, realizado pela Casa Viva, se encerrou na última quinta (10/11). Nesta edição, o evento teve o tema “Tecnologia Nuclear – Amiga do Clima, do Homem e do Planeta”. O encontro reúne especialistas para debater a energia nuclear e seu potencial para alavancar o desenvolvimento da indústria brasileira e diminuir a emissão dos gases que causam o efeito estufa. Entre os participantes estão a ABDAN (Associação Brasileira para Desenvolvimento de Atividades Nucleares); o vice-diretor geral e chefe do Departamento de Energia Nuclear da Agência Internacional de Energia Nuclear – AIEA, Mikhail Chudakov; os presidentes da Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional S.A. (ENBPar), Ney Zanella; da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), Paulo Roberto Pertusi; da Eletronuclear, Eduardo de Souza Grivot Grand Court; da Nuclebrás Equipamentos Pesados S.A. (Nuclep), Carlos Seixas; e da INB, Carlos Freire; e o diretor técnico da Amazônia Azul Tecnologias de Defesa S.A. (Amazul), Carlos Alberto Matias.

Comentário da Associação Brasileira de Energia Nuclear (ABEN)

Além de ter abordado o baixo consumo médio de eletricidade e o já existente mapeamento de sítios para centrais nucleares no País, o presidente da ABEN, Carlos Mariz, também deu destaque para programas internacionais de geração nuclear. Enquanto a França, a nação mais “nuclearizada” do mundo (mais de 70% da eletricidade provém da fonte nuclear), construiu mais de 40 usinas em dez anos, a China planeja instalar 150 reatores em apenas uma década e meia. Fatores-chave para o sucesso dos programas francês e chinês são a construção de usinas nucleares em série, processo que diminui os custos financeiros dos empreendimentos, retém conhecimento e experiência profissional e beneficia o planejamento da escala produtiva de insumos e equipamentos e de recursos humanos.

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Por Luiz Padilha
Foto em destaque: João Carlos Tupinambá, superintendente de Planejamento Estratégico e Comercialização da INB / Divulgação

Fonte: Primeira Linha Comunicações (matéria disponível no site Defesa Aérea & Naval)