Luciana Santos reiterou prioridade para o RMB e assegurou que as autarquias também serão contempladas com novas vagas, a exemplo do que ocorre com as unidades vinculadas
A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, visitou a ExpoT&C, na última quarta-feira, dia 26, e marcou presença na Vila Nuclear, onde conheceu algumas das atividades da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) em benefício da sociedade e reiterou os esforços do MCTI no sentido de fortalecer as instituições de ensino e pesquisa, inclusive com a realização de concursos públicos, e executar o projeto do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB).
Com a expectativa de receber seis mil visitantes, a ExpoT&C, mostra de ciência, tecnologia e inovação (C,T&I) está acontecendo no campus da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba, em concomitância com a 75ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Diferentemente dos anos anteriores, os tradicionais estandes foram substituídos por uma “cidade”, onde está a Vila Nuclear, área de 54m² ocupada pela Cnen e suas unidades técnico-científicas.
Acompanhada de Francisco Rondinelli Jr. e Wilson Parejo Calvo, respectivamente presidente e diretor de Pesquisa e Desenvolvimento (DPD) da Cnen, a ministra conheceu os produtos do Laboratório de Realidade Virtual do Instituto de Engenharia Nuclear (IEN) e, na oportunidade, o pesquisador Eugenio Marins enfatizou a importância da implantação do projeto da Casa da Ciência Nuclear no IEN, um centro para divulgação científica na área nuclear.
A proposta do IEN/Cnen vem ao encontro da política de popularização da ciência que está sendo amplamente discutida no âmbito da Diretoria de Popularização da Ciência, Tecnologia e Educação Científica do MCTI, conduzida por Juana Nunes, que possui larga experiência em formulação de políticas públicas e articulação social. Em reunião ocorrida pela manhã, representantes da Cnen mencionaram a importância de editais específicos para ações de divulgação na área nuclear.
“O MCTI tem todo o interesse de fortalecer e ampliar a divulgação científica”, disse a ministra. A Casa da Ciência Nuclear procura justamente evidenciar a relevância da área nuclear para a população, guiada pelo campo de conhecimento CTSA (acrônimo para ciência, tecnologia, sociedade e meio ambiente), que busca construir um ambiente expositivo dentro da tendência atual, abordando as problematizações entre a ciência, tecnologia e sociedade.
O IEN/Cnen também apresentou o Projeto de Extensão Tecnológica, baseado na Lei de Inovação, o qual oferece cursos de extensão nas áreas nuclear, radiológica e correlatas. São 14 cursos de competência e inovação em capacitação.
Concurso e gestão do conhecimento
Outra reinvindicação à ministra foi quanto à necessidade imediata de reposição de pessoal, por meio de concurso público, para a Cnen. O pesquisador Giovanni Conturbia, do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen/Cnen), enfatizou que a precarização pode impactar a gestão do conhecimento. “Em uma ponta, temos muitos servidores se aposentando; em outra, bolsistas extremamente capacitados que não conseguem ser absorvidos pelas instituições”, disse.
De acordo com o pesquisador, o programa nuclear brasileiro teve um “desenvolvimento fabuloso” na década de 80, mas corre sérios riscos, caso não haja realmente uma política prioritária para fomentar a pesquisa na área. “A discrepância entre as duas pontas que mencionei tem uma implicação direta na gestão do conhecimento. Não podemos deixar a peteca cair. Felizmente, a ministra se mostrou sensível à questão e assegurou que em breve o MCTI anunciará concursos para as autarquias”.
Aplicações nucleares
A irradiação de alimentos, importante ferramenta para dinamizar o agronegócio brasileiro e potencializar a exportação, é uma das áreas de atuação no Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN/Cnen). A ministra Luciana viu protótipos de alimentos que podem passar pelo processo, que, além de aumentar o tempo de prateleira, possibilita a diminuição da microbiota (micro-organismos que estão presentes em gêneros alimentícios).
Além da irradiação, o CDTN/Cnen também atua na produção de radiofármacos, em especial, o FDG, marcado com Flúor-18, com o objetivo de rastreamento de câncer primário e metástases. O kit entregue à ministra é resultado do trabalho de divulgação científica no instituto.
“Como aluna da pós-graduação em Ciência e Técnicas Nucleares, a divulgação científica e a participação em eventos como o da SBPC são de extrema importância para a inclusão dos alunos formados pelo CDTN no desafio de desmistificar a área nuclear para o público geral”, afirmou Natália Taveira.
O Ipen/Cnen tem uma linha de pesquisa que estuda o processo de irradiação para conservação de frutas e de flores comestíveis. Na Vila Nuclear, o público pode fazer uma análise sensorial com mangas irradiadas e não irradiadas, a fim de constatar eventuais diferenças de sabor, cor, aroma e textura. A ministra Luciana Santos topou a experiência, sem saber qual era uma e outra, e gostou das duas. “Mas, ao final da análise, acabou apontando uma das duas, e foi justamente a manga irradiada”, entregou Kodama.
Na sequência, o titular da DPD/Cnen, Wilson Calvo, mostrou à ministra a maquete da Unidade Móvel de Radiação, uma carreta que funciona como um laboratório itinerante, com equipamentos analíticos e um acelerador de elétrons, e comentou sobre as possibilidades de aplicações. Uma delas é a viabilidade da tecnologia nuclear na indústria, particularmente no tratamento de efluentes industriais e domésticos.
Projeto de inovação desenvolvido com tecnologia nacional pelo Ipen/Cnen e a empresa Truckvan, a Unidade Móvel também possibilitará a realização de estudos para instalação de plantas de irradiação em escala industrial, o treinamento em operação e manutenção de aceleradores industriais de elétrons, e prestações de serviços tecnológicos.
De acordo com Calvo, o Acordo de Cooperação firmado com a Truckvan prevê a transferência de tecnologia do Ipen/Cnen à empresa, na construção de outras unidades móveis. O projeto tem recursos da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Finep, CNPq e apoio da Nuclep. “Faço questão de participar do lançamento da Unidade Móvel”, adiantou Luciana.
RMB: “estruturante e prioritário”
A ministra de C&T fez questão de ver a maquete do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), mencionado por ela como prioridade entre os projetos estruturantes do governo, em seu pronunciamento na abertura da 75ª Reunião Anual da SBPC. Conduzido pela Cnen, o RMB é o maior empreendimento para a área nuclear no país, na atualidade. Segundo explicou Calvo, apesar do nome, o projeto não se limita a um reator nuclear.
“Trata-se de um novo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento que abrigará um Reator Nuclear de Pesquisa (30 MW), um Laboratório Nacional de Fusão Nuclear, um Acelerador de Alta Energia (70 MeV), Planta de Processamento de Radioisótopos, Laboratório de Ensaios de Materiais Pós-Irradiados, Laboratório de Análise por Ativação Neutrônica, Laboratório de Produção de Elementos Combustíveis, dentre outros”.
O RMB dará autossuficiência ao Brasil com a produção de todos os radioisótopos necessários para aplicações médicas (radiofármacos) e industriais. Além disso, será possível testar combustíveis nucleares para reatores de pesquisa, potência e propulsão naval. Em relação à P&D, será fundamental na caracterização de materiais por feixe de nêutrons, atuando de forma complementar ao Empreendimento Sirius.
Calvo também mencionou a capacitação de profissionais em Tecnologia Nuclear e em áreas estratégicas ao País no RMB. “É um projeto estruturante e de arraste tecnológico ao setor nuclear, que envolve várias entidades parceiras”, afirmou.
O RMB é coordenado pela Cnen, por meio de suas unidades técnico-científicas, em parceria com as Indústrias Nucleares Brasileiras (INB), a Marinha do Brasil, a Amazul, a Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN), Associação Brasileira de Energia Nuclear (ABEN), Sociedade Brasileira de Proteção Radiológica (SBPR), Invap S.E., dentre outras instituições públicas e privadas no País. O financiamento provém do FNDCT/Finep/ou MCTI.
Segurança
O Centro Regional de Ciências Nucleares do Nordeste (CRCN-NE) apresentou exemplos de materiais que contêm radiação natural a fim de mostra ao público que a radiação ionizante está presente em nosso cotidiano e que não apresenta riscos, nessas condições naturais. O pesquisador José Carlos Pereira explicou o trabalho da proteção e todo o ciclo nuclear, seus instrumentos de medições, como detectores, e os equipamentos de proteção individual (EPIs) utilizados na área de radioproteção.
“Receber a ministra aqui foi gratificante e motivo de orgulho para nós, pois ela pode perceber a importância das atividades da Cnen em benefício da sociedade. A área nuclear é estratégica para o Brasil, e a Cnen detém conhecimentos e tecnologias para contribuir nesse contexto de melhorar a qualidade de vida população brasileira, por exemplo, na questão alimentar, da saúde, com diagnósticos e terapias, e na nossa área específica, que é a radioproteção”.
Em sua última parada na Vila Nuclear, a ministra Luciana conheceu as atividades que o Instituto de Radioproteção e Dosimetria (IRD/Cnen) desenvolve para garantir o uso seguro das radiações no país. É possível ver de perto os equipamentos de proteção individual, detectores e detalhes de preparação das equipes de radioproteção, voltada à coleta e análise de amostras ambientais, além de ter contato com atividades da preparação de equipes para atendimento a emergências.
O servidor Carlos Henrique Romeiro, do IRD, estava paramentado com o EPI utilizado nos trabalhos de proteção radiológica, o que tem atraído muito o interesse do público, e não foi diferente na passagem da ministra. “Foi um momento marcante porque a presença da ministra é uma maneira de valorizar a área nuclear e os conhecimentos que produzimos, principalmente pela importância que exerce à frente do MCTI”, destacou Romeiro.
A notícia foi publicada originalmente no site do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen/Cnen).
Foto: Presidente da Cnen, Francisco Rondinelli, e diretor de Pesquisa e Desenvolvimento, Wilson Calvo, explicam à ministra os benefícios que a Unidade Móvel de Radiação pode gerar / Crédito: Ana Paula Freire
Fonte: Assessoria de Comunicação Social do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen/Cnen)