Comitê de Administração deu aval ao consórcio vencedor de obra de R$ 300 milhões; Eletronuclear já pode assinar o contrato
Stéfano Salles e Rafaela Cascardo da CNN
no Rio de Janeiro
Uma reunião do Conselho de Administração da Eletrobras aprovou, na última sexta-feira (28/01), o consórcio vencedor da licitação para a realização das obras do Programa de Aceleração do Caminho Crítico da usina de Angra 3. A medida permite a retomada das obras, iniciadas em 1984 e paradas desde 2015 por denúncias de corrupção.
Na prática, o aval da Eletrobras ao consórcio liderado pela empreiteira Ferreira Guedes, com as participações da Adtranz e da Matricial, significa que a Eletronuclear, sua subsidiária, terá um prazo de até 10 dias para a assinatura do contrato, o que permitirá o início das obras.
Nesta etapa, está prevista a construção do prédio que vai abrigar o reator e os prédios de segurança da usina. Durante agenda nesta sexta-feira, no Rio de Janeiro, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque celebrou o feito.
O governo tem destacado que o investimento em energia nuclear é parte dos esforços de diversificação da matriz energética brasileira. Atualmente, a fonte nucleoelétrica é responsável por 1,1% da capacidade brasileira, com as usinas de Angra 1 e 2.
“Isso faz parte de um processo. Essa usina de Angra 3 é uma retomada do governo do presidente Bolsonaro. Depois de mais de seis anos parada, nós conseguimos retomar o processo. E é uma usina que vai trazer mais segurança energética para o nosso país, é vital para o nosso sistema elétrico. E nós pretendemos concluí-la até o final de 2025, para entrar em operação em 2026”, afirma Albuquerque.
As obras licitadas terão custo de cerca de R$ 300 milhões. Isto, contudo não será suficiente para a conclusão da estrutura, que dependerá de uma nova licitação, para finalizar o projeto.
Um novo edital está em processo de montagem pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
A usina de Angra 3 terá 1.450 megawatts de capacidade, o mesmo número de Angra 2. Atualmente, as duas usinas do parque nuclear brasileiro produzem energia suficiente para abastecer 30% da demanda do estado do Rio de Janeiro, número que pode saltar para 50% com a ampliação do parque energético.
Já apresentado, o edital do Plano Decenal de Energia (PDE 2031) prevê a construção de uma quarta usina nuclear brasileira. O documento, em fase de consulta pública, prevê que a nova unidade fique na região Sudeste.
Nesta sexta-feira, o presidente da Associação Brasileira de Desenvolvimento para Atividades Nucleares (Abdan), Celso Cunha, teve uma reunião com o ministro, na qual tratou sobre o convênio fechado entre o ministério e o Centro de Pesquisas de Energia Elétrica da Eletrobras (Copel), para a definição de novos sítios para instalações de futuras usinas.
“Eu levei a ele o pedido de que o Copel leve também em consideração, para as futuras usinas brasileiras, o uso da nova tecnologia de small reactors, que são reatores portáteis. Eles são menores, mais eficientes, mais seguros e conferem mais velocidade às obras. E são de uma tecnologia que se espalha pelo mundo, mas que ainda não temos aqui. Ele prometeu que o Copel levará isso em consideração”, afirma Cunha.
Além de retomar as obras de Angra 3 e de projetar a construção de uma nova usina até 2030, o governo tem investido no combustível que alimenta a produção de energia por essa fonte.
Em dezembro de 2020, o país retomou a produção de urânio em uma mina de Caetité, cidade localizada no sul da Bahia. Até então, o país ficou cinco anos sem produzir o elemento, do qual é o detentor da nona maior reserva mundial.
Para ser utilizado como combustível, é necessário aumentar a proporção do urânio extraído da natureza, processo conhecido como enriquecimento.
Gradativamente, o país tem aumentado a capacidade de enriquecimento do metal, nas instalações das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), em Resende, no sul do Rio de Janeiro.
Em novembro do ano passado, foi inaugurada na Fábrica Nacional de Combustíveis, parte do complexo da INB na cidade, a nona cascata de ultracentrífugas de enriquecimento de urânio.
A primeira fase de implementação prevê dez delas, em um projeto que espera chegar a 30 em 2027, para que o país seja autossuficiente no enriquecimento do metal.
Com a privatização da Eletrobras, a Eletronuclear terá seus ativos incorporados pela recém-criada Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional (ENBpar).
Isto porque a Constituição Federal determina que o estado tem o monopólio na exploração de urânio, na fabricação de combustível e na geração de energia nuclear, o que impede que a atividade seja repassada ao setor privado.
Com informações de Beatriz Puente
Fonte: CNN Brasil (a matéria original está disponível aqui)