Novos bombardeios danificaram uma linha de energia reserva entre a central nuclear ucraniana de Zaporizhzhia e uma usina termelétrica próxima, aumentando ainda mais os riscos significativos de segurança nuclear na instalação, informou a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) após visitar o sítio.
Ocorrido na última terça-feira, dia 6, o incidente não teve impacto imediato nas operações atuais da central nuclear, pois a mesma fora desconectada da rede elétrica dois dias antes, quando outra linha de reserva foi desligada em virtude de combate a um incêndio.
Contudo, os danos na linha de 750/330 quilovolts (kV) demonstraram, mais uma vez, as dificuldades e vulnerabilidades que Zaporizhzhia está enfrentando em relação a fontes de alimentação externas. O sítio perdeu a conexão com todas as suas quatro principais linhas externas de energia durante a guerra promovida pela Rússia na Ucrânia – a última ocorreu no dia 2 deste mês. Das três linhas de backup entre a central nuclear e a planta termelétrica, uma agora está danificada pelos bombardeios, enquanto as outras duas estão desconectadas, informaram operadores ucranianos aos especialistas da AIEA presentes na instalação desde a semana passada.
Além do impacto na linha de energia, os bombardeios também causaram prejuízos no pátio de manobra do local, que devem ser reparados pela equipe operacional ucraniana. A central nuclear de Zaporizhzhia está nas mãos das forças russas desde o início de março, mas a operação é feita por equipe da Ucrânia.
Nos últimos dias, havia a expectativa de que o único reator operacional em Zaporizhzhia pudesse fornecer a energia necessária para resfriamento e outras funções de segurança. Embora a central também disponha de geradores a diesel de emergência, em caso de necessidade, o diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, expressou repetidas vezes preocupação com a situação do suprimento de energia.
Em um relatório sobre segurança, proteção física e salvaguardas nucleares na Ucrânia, divulgado no último dia 6 antes de transmitir um resumo das informações ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, o diretor-geral da AIEA pontuou que o sítio, em diversas ocasiões, “perdeu, total ou parcialmente, o fornecimento de energia externo como resultado das atividades militares na área”. Ele recomendou que a “redundância da linha de fornecimento de energia externa conforme projetada seja restabelecida e disponível a qualquer momento, e que todas as ocorrências militares que possam afetar os sistemas de fornecimento de energia sejam encerradas”.
O fornecimento de energia seguro fora do sítio e sistemas de fornecimento de eletricidade de reserva são absolutamente essenciais para garantir a segurança nuclear e prevenir um eventual acidente. Esse requisito, inclusive, está entre os sete pilares indispensáveis de segurança e proteção física divulgados por Grossi no início do conflito.
Na semana passada, após meses de esforços, o diretor-geral da AIEA estabeleceu a presença contínua da entidade na maior central nuclear da Europa quando liderou uma equipe de especialistas na linha de frente da instalação. Dois peritos da AIEA permanecem no local, fornecendo monitoramento e avaliações independentes e objetivas da situação no local.
Por fim, Grossi recomendou o estabelecimento urgente de uma Zona de Segurança e Proteção Nuclear em Zaporizhzhia, e está realizando consultas para implementar a ideia.
Leia a declaração original do diretor-geral da AIEA, em inglês, aqui.
+ Nuclear Safety, Security and Safeguards in Ukraine – 2nd Summary Report by the director general (28 April – 5 September 2022)
+ Conselho de Segurança da ONU: diretor-geral da AIEA pede o estabelecimento de uma zona de segurança e proteção física em Zaporizhzhia (em inglês)
+ Inspetores da AIEA permanecerão em Zaporizhzhia
Foto: Bandeira da AIEA / Divulgação
Fonte: Assessoria de Comunicação Social da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA)