Uma explosão de mina terrestre cortou a principal conexão de energia a um dos reatores da central nuclear ucraniana de Zaporizhzhia (ZNPP, na sigla em inglês), no mais recente incidente que destaca a frágil situação de segurança e proteção física nuclear do sítio durante o atual conflito militar, declarou ontem, dia 31/10, o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Mariano Grossi.
A explosão ocorreu anteontem (30/10) à noite fora da cerca do perímetro da central nuclear, desconectando a linha de energia externa de 750 quilovolts (kV) entre a subestação da usina e o transformador elétrico principal do reator nº 4.
Desse modo, essa unidade 4 está recebendo a eletricidade necessária para resfriamento e outras funções essenciais de segurança e proteção física de uma linha de backup que conecta ZNPP à subestação de usina termelétrica próxima, explicou Grossi, indicando informações fornecidas pela equipe de especialistas da AIEA presentes na maior instalação nuclear da Ucrânia – e Europa.
Em mais um sinal da situação precária em Zaporizhzhia, a equipe da AIEA disse que ocorreram bombardeios nas proximidades do sítio nos últimos dias, após um período de atividade militar reduzida. Anteontem, bombardeios perto da subestação da usina termelétrica desconectaram temporariamente uma das três linhas de energia de reserva de ZNPP, pelas quais a cidade ucraniana de Enerhodar está recebendo eletricidade. Essa linha de energia, de 150 kV, foi reconectada mais tarde no mesmo dia.
“A equipe operacional de Zaporizhzhia está trabalhando duro em circunstâncias muito desafiadoras para evitar quedas repetidas de energia como as que vimos no início de outubro”, esclareceu o diretor-geral da AIEA. “Embora os esforços tenham tido alguns resultados positivos, a situação de energia da usina permanece extremamente vulnerável”, complementou.
O dirigente se envolveu em conversas de alto nível com a Ucrânia e a Rússia nas últimas semanas com o objetivo de firmar uma zona de segurança e proteção física nuclear em torno de Zaporizhzhia o mais rápido possível.
Dos seis reatores da central nuclear, o nº 5 está em desligamento a quente para produzir o vapor necessário para as operações do sítio – o nº 6 também está sendo aquecido para a mesma finalidade. As outras quatro usinas permanecem em desligamento a frio.
Rafael Grossi também expressou sua profunda preocupação com as condições de trabalho cada vez mais difíceis e estressantes para o pessoal operacional ucraniano, que está sendo solicitado pela Rússia a assinar novos contratos de trabalho com uma recém-criada entidade, substituindo seus contratos atuais celebrados com o operador nacional ucraniano, a empresa Energoatom. A Rússia anunciou que assumiu o controle de ZNPP após a criação de uma organização operacional estatal para o sítio.
Além de reiterar diversas vezes que a central nuclear é ucraniana, o diretor-geral da AIEA alertou que a situação pode afetar tanto a disponibilidade de pessoal-chave quanto a tomada de decisões operacionais, com um impacto potencialmente negativo na segurança e proteção física nuclear, aumentando o risco de um acidente em Zaporizhzhia.
A equipe da AIEA no sítio foi informada sobre a recente libertação de um dos dois funcionários da instalação ucraniana que foram detidos há cerca de duas semanas. Segundo informações, ele está bem de saúde. Grossi saudou a notícia da liberação e fez um apelo para que o outro membro da equipe também seja solto.
O diretor-geral ainda relatou que os inspetores da AIEA começaram – e em breve concluirão – atividades de verificação em dois locais na Ucrânia, após uma solicitação por escrito feita pelo governo do país do leste europeu.
O pedido da Ucrânia foi feito depois que a Rússia criticou a possibilidade de atividades relacionadas à produção de “bombas sujas” nos dois locais, que estão sob salvaguardas da AIEA e foram visitados regularmente por inspetores da entidade. O objetivo das visitas de salvaguardas é detectar possíveis atividades nucleares não declaradas e materiais relacionados ao desenvolvimento de “bombas sujas”. A AIEA inspecionou um dos dois locais há um mês e não encontrou ilícitos.
Por fim, Rafael Grossi disse que fornecerá suas conclusões iniciais sobre as últimas atividades de verificação nos dois locais ainda nesta semana.
Leia a declaração original do diretor-geral da AIEA, em inglês, aqui.
+ Declaração do diretor-geral da AIEA sobre a situação na Ucrânia – Update 121
+ Inspetores de salvaguardas da AIEA visitarão dois sítios nucleares na Ucrânia
Foto: Bandeira da AIEA / Divulgação
Fonte: Assessoria de Comunicação Social da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA)