Engenheiros da central nuclear ucraniana de Zaporizhzhia (ZNPP, na sigla em inglês) têm trabalhado para estabilizar o frágil fornecimento de energia externa da instalação após repetidas interrupções no início deste mês que a forçaram a depender temporariamente de seus geradores a diesel de emergência para eletricidade, declarou ontem, dia 27, o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Mariano Grossi.
Embora a situação de segurança e proteção física nuclear em ZNPP permaneça precária, a central recebeu, nos últimos dez dias, a energia necessária para o resfriamento dos reatores e outras funções essenciais de segurança e proteção diretamente e sem interrupção da rede nacional, enfatizou o diretor-geral, citando informações dos especialistas da AIEA presentes no sítio.
Além disso, a maior central nuclear da Ucrânia – e Europa – atualmente também tem energia de reserva disponível – em caso de necessidade – por meio de subestação de uma usina termelétrica próxima. A instalação foi danificada por bombardeios em 19/10, mas o reparo ocorreu no dia seguinte (20). Nos últimos dias, os arranjos de energia de reserva também se tornaram mais robustos, pois foi colocada em operação uma segunda interconexão na subestação da usina termelétrica de 330 quilovolts (kV). Isso estabelece uma conexão mais confiável com a linha de energia externa de 330 kV para fornecer eletricidade à Zaporizhzhia, se a conexão externa principal falhar novamente.
Mesmo com essas melhorias, o diretor-geral Grossi frisou que a situação de energia no sítio permanece vulnerável – apenas uma linha de energia externa de 750 kV está operando em comparação com as quatro antes do atual conflito militar na Ucrânia – e que pode piorar a qualquer momento.
No início deste mês, a conexão de ZNPP à linha de 750 kV foi cortada três vezes em dez dias, com a última perda de energia ocorrendo no dia 17. Durante dois desses cortes, os geradores a diesel de emergência do sítio forneceram a eletricidade necessária, pois o sistema de backup também estava inativo.
Embora não tenham ocorrido bombardeios na região da central de Zaporizhzhia na semana passada, atividades militares nas proximidades do local foram registradas. “Este não é absolutamente o momento para complacência. A situação pode mudar drasticamente a qualquer instante”, explicou o diretor-geral da AIEA.
Portanto, o estabelecimento de uma zona de segurança e proteção física nuclear ao redor da instalação continua sendo de suma importância, assinalou o diretor-geral. Ele se envolveu nas últimas semanas em negociações de alto nível na Ucrânia e na Rússia com o objetivo de acordar e implementar tal zona o mais rápido possível.
Pessoal russo trabalhando em Zaporizhzhia
Em ZNPP, equipe ucraniana continua a operar a planta, mas há mais técnicos russos trabalhando no local, e o país anunciou que assumiu o controle da instalação, incluindo agora a tomada de decisões operacionais significativas, após a criação de uma organização estatal russa operacional para o sítio – com sede em Moscou.
Rafael Grossi, que deixou claro que considera Zaporizhzhia uma central nuclear ucraniana, expressou preocupação com uma possível confusão em relação à cadeia de comando da operação do sítio, o que poderia afetar negativamente a segurança e a proteção física nuclear.
Por exemplo, a equipe operacional ucraniana havia planejado religar o reator nº 5, mas ele atualmente permanece em modo de desligamento a quente, pois as autoridades russas não concordaram com o reinício. Enquanto isso, esse reator está em desligamento a quente fornecendo vapor para as operações do local, mas a equipe da planta afirma que outra unidade também precisará ser colocada em desligamento a quente para suprir todas as necessidades da central nuclear no futuro. O sítio está aguardando permissão de Moscou para realizar isso.
Em relação aos relatórios recentes sobre a instalação de armazenamento a seco de combustível irradiado de Zaporizhzhia, o diretor-geral disse que a AIEA está ciente do trabalho que vem sendo realizado com o objetivo declarado de atualizar o sistema de proteção física. A equipe da Agência no local foi informada sobre o trabalho – incluindo detalhes técnicos – em 14 de outubro. Para salvaguardas e outros propósitos, a AIEA continua a ter acesso à referida instalação.
Ainda ontem (27), Rafael Grossi reiterou que os inspetores da AIEA realizariam, nesta semana, atividades de verificação em dois locais na Ucrânia, seguindo um pedido realizado por escrito pelo governo do país do leste europeu.
A solicitação ucraniana foi feita depois que a Rússia fez alegações sobre atividades relacionadas à possível produção de “bombas sujas” nos dois locais, que estão sob salvaguardas da AIEA e foram visitados regularmente por inspetores da entidade. O objetivo das inspeções de salvaguardas desta semana é detectar possíveis atividades nucleares não declaradas e materiais relacionados ao desenvolvimento de “bombas sujas”. A AIEA fiscalizou um dos dois locais há um mês e não encontrou evidências de atividades ou materiais “ilícitos”.
“Os inspetores da AIEA conduzirão verificações independentes nesses locais conforme o acordo de salvaguardas da Ucrânia para detectar qualquer desvio de material nuclear e qualquer produção ou processamento não declarado de material nuclear nos dois locais e, também, garantir que não ocorram atividades nucleares não declaradas”, esclareceu Grossi.
E finalizou: “Assim que nossas checagens forem concluídas, avaliaremos as descobertas e relataremos nossas conclusões de acordo com nossa prática padrão de salvaguardas. No entanto, sabendo do interesse e da urgência do assunto, a AIEA também fornecerá as conclusões ao seu Conselho de Governadores e, imediatamente depois, ao público”.
O diretor-geral da instituição ficou incumbido de fornecer uma atualização sobre esse assunto ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), ao qual a AIEA é vinculada, em sessão privada.
Leia a declaração original do diretor-geral da AIEA, em inglês, aqui.
+ Inspetores de salvaguardas da AIEA visitarão dois sítios nucleares na Ucrânia
+ Declaração do diretor-geral da AIEA sobre a situação na Ucrânia – Update 120 (em inglês – fonte: IAEA)
+ Declaração do diretor-geral da AIEA sobre a situação na Ucrânia – Update 119
Foto: Bandeira da AIEA / Divulgação
Fonte: Assessoria de Comunicação Social da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA)