Uma linha de energia de reserva para a central nuclear de Zaporizhzhia, na Ucrânia, foi restaurada, fornecendo ao sítio a eletricidade externa necessária para o resfriamento dos reatores e outras funções essenciais de segurança, informou ontem, dia 11, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
A restauração de uma linha de reserva de 330 quilovolts (kV) na noite do último sábado, dia 10, que conecta a maior central nucleoelétrica da Europa à rede ucraniana por meio do pátio de uma usina termelétrica na cidade vizinha de Enerhodar, permitiu que Zaporizhzhia desligasse seu último reator em operação na manhã de ontem, 11. Essa usina forneceu energia ao sítio na semana passada depois que a instalação foi desconectada da rede. Com a restauração da linha, a eletricidade necessária para a segurança nuclear de Zaporizhzhia tem, mais uma vez, origem externa.
O diretor-geral da AIEA, Rafael Mariano Grossi, saudou os últimos acontecimentos sobre o panorama de energia da central, os quais também foram confirmados pela Ucrânia, mas enfatizou que a situação do complexo permaneceu precária após semanas de bombardeios na área que danificaram a infraestrutura básica de energia. Mesmo com todos os reatores desligados, eletricidade ainda é necessária para o resfriamento dos reatores e outros sistemas necessários para manter a segurança.
“Apesar do dano, os operadores e engenheiros da central conseguiram restaurar uma das linhas de energia de reserva, em circunstâncias muito desafiadoras, para fornecer eletricidade externa à Zaporizhzhia”, declarou Grossi. E completou: “No entanto, continuo seriamente preocupado com a situação no local, que permanece em perigo enquanto os bombardeios continuarem. Para lidar com essa grave situação, começaram as consultas sobre a necessidade urgente de estabelecer uma zona de segurança e proteção física na região de Zaporizhzhia”.
O fornecimento seguro de energia fora do sítio e sistemas de fornecimento de energia de backup são essenciais para garantir a segurança nuclear e prevenir um acidente, mesmo quando os reatores não estão mais em operação. Esse requisito, inclusive, está entre os sete pilares indispensáveis de segurança e proteção física divulgados pelo diretor-geral da AIEA no início da guerra promovida pela Rússia na Ucrânia.
Especialistas da Agência presentes em Zaporizhzhia desde o último dia 1º – como parte da equipe liderada por Rafael Grossi para estabelecer a Missão de Apoio e Assistência da AIEA – foram informados por funcionários do complexo nuclear que a unidade nº 6 foi desligada às 3h41 (horário local) de ontem, 11. As outras cinco unidades já estavam desligadas, e a central atualmente não está fornecendo eletricidade para residências, fábricas e outras instalações. Zaporizhzhia está nas mãos das forças russas desde o início de março, mas a operação é feita por equipe ucraniana.
Além da linha de 330 kV restaurada, estão em andamento obras para restabelecer a conexão com outras linhas de energia. O reator nº 6 estava fornecendo energia para o sítio desde que o mesmo foi desconectado da rede, no último dia 5. Contudo, operar um reator com baixa potência não é uma solução sustentável por um período mais longo, pois os principais equipamentos da instalação, como turbinas e bombas produtoras de eletricidade, podem ser danificados com o passar do tempo.
Geradores a diesel de emergência
A central nuclear de Zaporizhzhia também dispõe de 20 geradores a diesel de emergência, que podem abastecê-la por, pelo menos, dez dias de operação. Não houve necessidade de utilizar tais geradores durante essa mudança operacional. Embora a usina termelétrica de Enerhodar permaneça inativa, a linha de energia agora restaurada fornece à Zaporizhzhia energia da rede ucraniana transportada por meio do pátio de manobra da planta.
Como é o caso dos outros cinco reatores, a equipe operacional do sítio planeja levar a unidade nº 6 a um estado de desligamento a frio, o que pode levar cerca de 30 horas. A instalação ainda precisará de eletricidade para funções relacionadas à segurança. No entanto, nesse estado, apenas a energia de um gerador a diesel por reator é necessária para manter a segurança.
Em um relatório sobre segurança, proteção física e salvaguardas nucleares na Ucrânia, divulgado no último dia 6 antes de transmitir um resumo das informações ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, o diretor-geral da AIEA pontuou que o sítio, em diversas ocasiões, “perdeu, total ou parcialmente, o fornecimento de energia externo como resultado das atividades militares na área”. Ele recomendou que a diversidade e a redundância da linha de fornecimento de energia externa “devem ser restabelecidas e disponíveis a qualquer momento, e que todas as atividades militares que possam afetar os sistemas de fornecimento de energia terminem”.
Leia a declaração original do diretor-geral da AIEA, em inglês, aqui.
+ Declaração introdutória do diretor-geral da AIEA ao Conselho de Governadores (em inglês – fonte: IAEA)
+ Ucrânia desliga maior usina nuclear da Europa (fonte: Deutsche Welle – DW / G1)
+ Declaração do diretor-geral da AIEA sobre a grave situação na usina nuclear de Zaporizhzhia
+ Nuclear Safety, Security and Safeguards in Ukraine – 2nd Summary Report by the director general (28 April – 5 September 2022)
+ Declaração do diretor-geral da AIEA sobre a situação na Ucrânia – Update 99
Foto: Bandeira da AIEA / Divulgação
Fonte: Assessoria de Comunicação Social da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA)