Com participação da Associação Brasileira de Energia Nuclear (ABEN) e Eletronuclear, o Conselho Empresarial de Energia da Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ), do qual é presidente a Dra. Joisa Dutra, realizou na tarde de anteontem, dia 22, no Centro da capital fluminense, reunião para tratar da Energia Nuclear e da recuperação judicial da Light. O presidente da ABEN, John Forman (que também é membro do Conselho de Energia da ACRJ), conduziu a mesa de Energia Nuclear, da qual participaram o deputado federal Júlio Lopes (PP-RJ), presidente da Frente Parlamentar Mista de Tecnologia e Atividades Nucleares ( FPN); o diretor-presidente da Eletronuclear, Eduardo Grivot de Grand Court; o presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), Francisco Rondinelli Junior; o superintendente de Energias Limpas da Secretaria de Estado de Energia e Economia do Mar do Rio de Janeiro (Seenemar), Sergio Coelho; e o diretor de Estudos Econômico-Energéticos e Ambientais da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Giovani Machado.
O coordenador da mesa, presidente da ABEN, ressaltou a importância das empresas do ciclo do combustível para a geração nucleoelétrica. “O Estado do Rio não é apenas o único que gera energia no Brasil a partir da fonte nuclear, mas também o único que tem a capacidade de produzir o combustível que alimenta os reatores. A INB faz a mineração do urânio fora do Rio, mas o restante do ciclo é realizado em Resende. Uma outra empresa importante é a Nuclep, que é uma indústria de produção de equipamentos nucleares. Ela fica em Itaguaí e é um ativo de importância para o Estado do Rio de Janeiro. No conjunto todo, de geração e aplicações nucleares, há um maestro: Cnen, cuja sede também fica no Rio de Janeiro”, afirmou.
E completou: “Foi criada há dois anos a Autoridade Nacional de Segurança Nuclear, cuja lei diz que ela vigoraria a partir do decreto que a regulamentasse. O decreto diz que ela será implementada quando seu presidente for nomeado. É uma indefinição para a qual precisamos buscar solução. Assim como a questão de Angra 3. Precisamos todos nos entender. Estamos aqui oferecendo nossa capacidade de apoiar, como associação, a discussão entre Eletronuclear e Prefeitura de Angra dos Reis”.
Na visão do deputado Julio Lopes, a retomada de Angra 3 proporcionará desenvolvimento econômico ao estado, como a execução dos contratos de fornecimento de trocadores de calor entre a Eletronuclear e a Nuclebrás Equipamentos Pesados S.A. (Nuclep), os quais mobilizariam até 2 mil trabalhadores na região de Itaguaí. O parlamentar também disse que é preciso se movimentar contra inverdades difundidas acerca de Angra 3, como imputar ao custo real da obra os custos relativos às paralisações. “Fica muito fácil, assim, dissuadir a sociedade da importância de finalizar a construção da usina”, argumentou. Em seguida, o político teve que partir para outro compromisso.
De acordo com o diretor-presidente da Eletronuclear, a retomada das obras de Angra 3 gerará de 5 a 9 mil empregos diretos e 20 mil indiretos. “É preciso destacar que as empresas do setor nuclear, notadamente Eletronuclear, INB e Nuclep, fazem uma movimentação de mais de R$ 500 milhões por ano entre energia, combustível e equipamentos no Rio de Janeiro”, assinalou, complementando que a capacidade de geração de empregos das obras de construção da terceira usina nuclear brasileira não pode ser perdida. Sobre o embargo às obras no canteiro de Angra 3 estabelecido pela Prefeitura de Angra dos Reis, por sua vez, Eduardo Grand Court declarou que nenhum dos argumentos citados pelo prefeito foram apresentados de forma documental.
Já o presidente da Cnen destacou que o Brasil não pode abrir mão da fonte nuclear na matriz energética por deter urânio, capacidade industrial e experiência operacional e, ainda, que a atividade de licenciamento e fiscalização não parou. “Há uma mudança de modelo com a criação da Autoridade. Contudo, no momento a atividade continua a ser executada pela Diretoria de Radioproteção e Segurança Nuclear da Cnen. Estamos analisando, na área regulatória da Cnen, a extensão de vida útil de Angra 1, licenciamos a Unidade de Armazenamento a Seco para Angra 1 e 2 e estamos licenciando Angra 3. A atividade regulatória não vai parar. É uma questão de ajustar o modelo brasileiro de criação da Autoridade. Tenho a perspectiva de que consigamos instituir a Autoridade até o fim do ano e de fazer uma transferência progressiva dessa função da Cnen atual para a nova estrutura do País: uma Cnen de promoção do desenvolvimento e uma Autoridade dedicada exclusivamente à regulação”, esclareceu.
Rondinelli também frisou a importância da construção do Centro Tecnológico Nuclear e Ambiental (Centena), que abrigará um repositório de rejeitos fundamental, inclusive, para a licença de operação de Angra 3. Segundo ele, existe uma lista de seis locais candidatos, espalhados por Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, para abrigar o empreendimento. Além disso, o presidente da Cnen informou que realizou, no mês passado, um pedido de abertura de concurso com 1.050 vagas efetivas e, em paralelo, outro para uma seleção com 380 vagas temporárias (cinco anos) ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Os pleitos estão em análise na pasta.
Por sua vez, o diretor da EPE Giovani Machado abordou a necessidade de diferenciar custo afundado do quanto o consumidor de energia elétrica deve pagar e a importância da visão de longo prazo, considerada no Plano Nacional de Energia (PNE) 2050. Além disso, salientou que o Brasil tem forte vocação agroexportadora e que a irradiação de alimentos é uma das formas atualmente necessárias para entrar nos mercados de altos valores agregados do complexo agroindustrial. “Há uma série de oportunidades de negócios que precisam de uma locomotiva. Isso seria viabilizar os SMRs [pequenos reatores modulares]”, discursou.
“Temos uma visão que permanece de longo prazo onde vemos de oito a dez gigawatts como Política Nuclear e uma participação ainda maior se for viabilizada do ponto de vista competitivo. E, de fato, o ponto fundamental é ajudar no engajamento de stakeholders – partes interessadas – e na comunicação com a sociedade. Também vemos uma série de questões em hidrogênio. Vemos com muito carinho o projeto da Eletronuclear”, informou.
RJ foca em energia limpa
“Nuclear é energia limpa”, enfatizou John Forman ao dar a palavra ao superintendente de Energias Limpas da Seenemar, Sergio Coelho, o qual, por sua vez, frisou que sua superintendência engloba energias eólica e solar, aproveitamento energético de biogás e biometano e energia nuclear. “O Rio de Janeiro tem ambição muito grande em energia renovável. Só que o estado pode ter essa ambição por causa da segurança energética fornecida pela energia nuclear, que é de base”, finalizou.
Assista, abaixo, ao vídeo da reunião do Conselho Empresarial de Energia da ACRJ disponível no canal da entidade no YouTube.
+ ABEN participa de reunião do Conselho de Energia da ACRJ nesta segunda, dia 22/05
Fotos: Bernardo Andrade