Quando Seth Grae se preparava para voltar para casa da 27ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP27), no Egito, evento do qual participou como delegado da American Nuclear Society (ANS), ele não tinha ideia de que estava prestes a fazer parte de uma vitória de última hora para a energia nuclear. Fundador e CEO da Lightbridge Corporation, o executivo sentiu que a indústria nuclear havia superado as expectativas na conferência de duas semanas realizada na cidade egípcia de Sharm el-Sheikh. O primeiro pavilhão da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) dedicado exclusivamente à energia nuclear estivera lotado de delegados ansiosos para educar o público, mas, horas antes do fim da COP27, Grae recebeu um texto – cuja mensagem acabaria chegando à sala de negociações da conferência.
O texto partiu de Ia Aanstoot, uma adolescente sueca de 17 anos estudante de nível médio que percebera um problema no anteprojeto da decisão final da COP27. Ela viajou sozinha para a Conferência, em que participou sob a bandeira da Nuclear para o Clima ao lado de Seth Grae e outros delegados de todo o mundo. Enquanto os negociadores dos 196 países trabalhavam na declaração final da COP27, Aanstoot conseguiu acessar uma minuta online e notou que, na seção de energia, apareciam apenas os temos “renováveis” e “energia renovável”, sem uma menção específica à energia nuclear. Ela postou tal observação em grupo de WhatsApp de apoiadores da energia nuclear que estavam lá.
“Eles chegaram cerca de uma hora depois de quando parecia que o texto final seria lançado, o que chamaram de Rascunho 2”, declarou a jovem sueca. Ela encontrou e olhou para a seção de energia e viu a palavra “renovável” e o termo “energia renovável”, e nada além disso. Parecia excluir o nuclear das provisões de energia da declaração final que estava prestes a ser finalizada.
Quando o delegado da ANS viu o texto no grupo do WhatsApp, rapidamente entrou em contato com o Departamento de Energia e a American Nuclear Society. Grae imediatamente enviou um e-mail para a secretária adjunta de energia nuclear do Departamento de Energia dos EUA (DOE, na sigla em inglês), Kathryn Huff, que havia participado da COP27. “Foi em um sábado, e ela respondeu imediatamente e disse que estava trabalhando nisso”, explicou Seth Grae. Kathryn Huff então repassou o alerta para a assessora especial para inovação nuclear do Departamento de Estado, Kirsten Cutler.
Grae também procurou o diretor de comunicações da ANS, Andrew Smith, que então contatou o CEO da ANS, Craig Piercy, sobre o esforço. Na sequência, Piercy procurou um contato da Casa Branca que trabalha com questões climáticas, na esperança de alertar o governo dos EUA sobre a exclusão da energia nuclear na declaração final. Não está claro se as mensagens foram enviadas a tempo, mas na manhã de 20 de novembro, um domingo, a declaração final foi divulgada – com linguagem mais ampla e, principalmente, incluindo a fonte nuclear.
Palavra final
Em uma vitória nuclear, a COP27 emitiu sua declaração final, o Plano de Implementação de Sharm el-Sheikh, com linguagem inclusiva em tecnologia em seu apelo aos países para descarbonizarem o setor energético. Em sua versão final, a declaração pede um “aumento de energia renovável e de baixa emissão” como parte da “diversificação de matrizes e sistemas de energia”.
A decisão final em cada COP é um conjunto de compromissos acordados por quase todos os países do mundo. A principal conquista na COP27 foi um acordo de que os países ricos ajudarão a fornecer financiamento destinado a “perdas e danos” por meio do Banco Mundial e outros mecanismos aos países menos desenvolvidos para combater as mudanças climáticas. Uma abordagem de energia de baixo carbono que inclua o nuclear pode permitir que parte da assistência que os EUA fornecem seja na forma de projetos de energia nuclear a serem implantados em países com economias menos desenvolvidas. Esses tipos de projetos poderiam ser excluídos de acordo com a minuta que Ia Aanstoot encontrou.
“Acabou o fio, mas conseguimos! A inclusão de fontes de ‘baixa emissão’ no acordo foi fundamental para garantir que as nações em desenvolvimento possam usar a energia nuclear para descarbonizar”, relatou o CEO da ANS.
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Fonte: ANS News