Em um laboratório localizado no Instituto de Energia Nuclear (IEN), unidade técnico-científica da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), no Rio de Janeiro, uma equipe majoritariamente feminina, realiza pesquisas inéditas para o tratamento de Câncer e doenças neurodegenerativas como Alzheimer e Parkinson.
Liderado pelo Doutor Ralph Santos-Oliveira, o grupo desenvolveu Microesferas de Vidros Reciclável para o tratamento de câncer no fígado, de mama e próstatas, a partir de radioembolização.
Microesferas de Vidro Reciclável: Alternativa Nacional e Acessível para o Câncer
A técnica de radioembolização consiste na aplicação do medicamento o mais próximo possível do tumor, evitando que outros órgãos sejam atingidos durante o tratamento.
Atualmente a técnica não é coberta pelo Sistema Único de Saúde (SUS) pelo alto custo dos medicamentos.
Em fase de ensaio clínico, as Microesferas de Vidro, surgem como um método nacional, que utilizam vidros recicláveis como matéria prima.
O grande foco da pesquisa é o uso da microesfera para radioembolização hepática, já tendo sido realizado o primeiro ensaio clínico, porém, os pesquisadores já estão estudando sua aplicabilidade na mama e próstata.
“A grande vantagem é que desenvolvemos um método 100% nacional para produzir microesferas de vidro com o radionuclídeo que você quiser. Hoje uma radioembolização, um ciclo completo, com quatro ou cinco aplicações, custa entre 400 e 700 mil reais. Usando a microesfera que nós produzimos, custa cerca 30 a 50 mil reais. É muito mais barato. Você pode pensar em um atendimento sistêmico dentro do SUS“ afirmou o responsável pelo Laboratório de Nano fármacos do IEN sobre o grande diferencial da sua pesquisa.
Segundo o responsável pela pesquisa, já foi comprovado que é possível fazer o tamanho e o radionuclídeo que o cliente desejar. O único desafio é não ter um reator nuclear capaz de fazer a microesfera atingir a atividade de radiação suficientemente alta para atender de forma unitário o Brasil inteiro.
O uso do arimoclomol em pacientes com doenças neurodegenerativas.
Outra pesquisa realizada no laboratório, é o uso do arimoclomol, medicamento utilizado para o tratamento de miosite, processo inflamatório, para Alzheimer e Parkinson.
O tratamento se mostrou promissor quando testaram o seu uso nas placas beta-amiloide, um peptídeo que se acumula no cérebro e é o principal componente das placas amiloides, associadas à doença de Alzheimer. Foi observado que o arimoclomol foi capaz de reduzir a placa já formada, e uma vez que os monômeros que formam a placa são dissolvidos, eles não formavam monômeros tóxicos.
A grande vantagem é que eles não se reagrupavam. O que de fato reduziria o agente causador do Alzheimer.
Caso a placa amiloide seja eliminada, o paciente retoma a sua cognição. Então ele vai melhorar a fala, memória e aspectos comportamentais.
“Vai tirar toda a placa beta-amiloide? Não sabemos. Talvez sim. Talvez não. Estamos estudando ainda. Mas pelos estudos preliminares a conclusão que chegamos é que talvez ele possa melhorar substancialmente o quadro de Alzheimer” pontuou o farmacêutico sobre o estágio da pesquisa e os seus benefícios para os pacientes.
Outro aspecto a ser estudado na pesquisa é a possibilidade de usar o arimoclomol na prevenção da doença, já que hoje temos exames que conseguem pré dizer se você terá Alzheimer ou Parkinson.
Desafios da Medicina Nuclear e Radiofármacos no Brasil
“Não existe nada que seja mais eficiente e poderoso do que um radiofármaco e técnica da Medicina Nuclear. Dentro do SUS, isso representa o que efetivamente? Representa diagnósticos precisos, exemplo, vou fazer um exame de imagem para saber se você está com miosite ou você está com algum tipo de infecção causada por câncer. Isso faz toda a diferença. Porque isso muda a conduta clínica e me dar agilidade“ destacou Ralph.
Apesar da importância das pesquisas de radiofármacos e de Medicina Nuclear no Brasil, o pesquisador citou alguns desafios ainda enfrentados pelas áreas. O primeiro é a falta de investimento a longo prazo.
“Aprovamos um grande edital, conseguimos dinheiro, mas a pesquisa, ela é uma entidade viva. O que você começa hoje pesquisando para câncer hepático, começamos a ver que talvez para mama seja mais interessante, talvez para próstata seja muito melhor, mas isso é dinâmico, pesquisa é dinâmica” exemplificou.
Em seguida, a dificuldade em transformar a pesquisa cientifica em uma tecnologia viável. Além da demora de em média dois anos para conseguir de fato finalizar a patente e aplicar a técnica, no Brasil também temos um atraso quando chegamos na etapa de pesquisa clínica.
Quando a pesquisa avança para o ensaio em humanos, o número de paciente é reduzido e precisa se considerar que nem todos vão seguir o cronograma de exames e acompanhamentos à risca.
O último e mais antigo desafio citado pelo pesquisador foi a transposição. Do laboratório para o produto real. A conversa instituto/pesquisador e empresa.
Na foto a atual equipe do Laboratório de Nanotecnologia aplicado a Radiofarmácia do IEN, os pesquisadores Ralph Santos-Oliveira, Julia Maria de Azevedo costa, Mariana de Souza do Rosário, Tayná Vitória Ramos de Oliveira , Gabriela Fonseca Da Cunha Viana, Mariana Martínez González, Isabelle Xavier de Britto, Victoria Louise Santana dos Santos, Maria Bianca de Araújo Ribeiro, Jéssica Ingrid Faria de Souza , Natália Cristina Gomes da Silva , Marília Amável Gomes Soares e Jeniffer Muniz da Silva.