O Brasil mais uma vez ratifica seu compromisso com a inovação tecnológica e o uso responsável da energia nuclear ocupando um papel de destaque na 67ª Conferência da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). O evento, que reúne especialistas e líderes globais na área nuclear, teve início nesta segunda-feira, 25, em Viena (Áustria) com mais de 2,8 mil participantes, sendo 2.575 representantes dos Estados-Membros.
A AIEA é conhecida por seu papel fundamental na promoção do uso seguro e pacífico da energia nuclear em todo o mundo. A conferência anual da AIEA é um ponto de encontro para discutir avanços tecnológicos, desafios globais e oportunidades de cooperação no campo nuclear, e também para considerar e aprovar o orçamento da Agência e decidir sobre outras questões levantadas pelo Conselho de Governadores, pelo diretor-geral e pelos Estados-Membros.
Um dos principais destaques da delegação brasileira, que conta com a participação do secretário executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luis Fernandes, é a apresentação de projetos de inovação incorporando tecnologias de ponta para minimizar o impacto ambiental e maximizar o aproveitamento da energia nuclear, em consonância com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), à qual a AIEA está vinculada.
Além disso, o Brasil está compartilhando sua experiência e conhecimento em segurança nuclear, enfatizando a importância da cooperação internacional para garantir que a energia nuclear seja usada de maneira segura e responsável em todo o mundo.
Representando o MCTI, a Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) assumiu, este ano, a coordenação do Brasil na exposição da Conferência Geral, que começou nesta terça-feira, 26, e é uma espécie de “vitrine” para cada país. O estande brasileiro apresenta ao público as principais inovações de responsabilidade da Cnen, com destaque para dois projetos estruturantes, o Reator Multipropósito Brasileiro (RMB) e o Centro Tecnológico Nuclear e Ambiental (Centena).
Luis Fernandes, do MCTI, e Francisco Rondinelli Júnior e Wilson Calvo, respectivamente presidente e diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Cnen, receberam o diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, na inauguração do estande do Brasil. Também presentes na recepção a Grossi o embaixador e Chefe da Delegação Brasileira, Carlos Márcio Cozendey, a embaixadora Cláudia Viera Santos e o ministro Ricardo Maschietto Ayrosa, ambos da Missão Brasileira em Viena.
O desenvolvimento da área nuclear no Brasil, bem como os acordos regionais foram pontuados por Grossi, na visita ao estande. Ele destacou a colaboração Brasil e Argentina, a qual ele vê “com carinho”. Também ressaltou a importância do número de empresas envolvidas com a área nuclear no Brasil e a estreita cooperação entre elas, favorecida, em grande parte, pela Cnen.
Na visita, Rondinelli entregou um cheque simbólico de 50 mil euros referente à contribuição complementar para o projeto de cooperação ReNuAl (do inglês Renovation of the Nuclear Applications Laboratories, ou Renovação dos Laboratórios de Aplicações Nucleares, em tradução livre) de Seibersdorf, da AIEA, na Áustria.
Uma das finalidades é prestar assistência técnica aos Estados-Membros nas áreas da alimentação e da agricultura, da saúde humana, do ambiente e do desenvolvimento e utilização de instrumentos científicos nucleares. São essenciais para o apoio da Agência aos Estados-Membros na utilização de tecnologias nucleares pacíficas para alcançar os ODS. Reconhecendo a importância dos laboratórios de Seibersdorf, em setembro de 2020 Rafael Grossi anunciou a intenção de concluir a sua modernização.
Cinquenta e um Estados-Membros e vários doadores não-tradicionais fizeram contribuições extraorçamentárias, totalizando mais de 63 milhões de euros para a modernização dos laboratórios.
Projetos estruturantes
O RMB é um marco significativo no cenário científico e tecnológico do Brasil. Este projeto de grande envergadura representa um avanço notável na área nuclear, concebido para desempenhar múltiplos papéis, desde a produção de radioisótopos para uso médico e industrial até a pesquisa científica e o treinamento de profissionais na área nuclear.
“O RMB reflete o compromisso do Brasil em utilizar a energia nuclear de maneira responsável e benéfica para a sociedade, oferecendo uma plataforma versátil que contribuirá significativamente para o avanço da ciência, medicina e tecnologia no país e na região”, afirmou Wilson Calvo, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Cnen.
O projeto Centena tem como objetivo projetar, construir e comissionar a primeira instalação de tecnologia nuclear e ambiental para a eliminação de rejeitos radioativos de baixo nível na América do Sul. A Cnen é responsável pela regulamentação e fiscalização das atividades nucleares no Brasil, incluindo a gestão segura de rejeitos nucleares. O Centena é um núcleo de segurança e sustentabilidade para o Brasil.
Casos de sucesso
As diretrizes da Cnen para a inovação tecnológica compreendem três áreas: tecnologias nucleares (reatores, instrumentação e materiais, ciclo do combustível, etc.); aplicações das radiações ionizantes na saúde, indústria, agricultura e meio ambiente; e radioproteção e dosimetria. Em todas, a Cnen atua com excelência, e sua expertise está demonstrada em três casos de sucesso apresentados no Side Event de Inovação da Conferência: os projetos GraNioTer, Unidade Móvel e Aplicações de Radiotraçadores na Indústria de Petróleo e Gás.
O Caso 1 – Projeto “Produção de Grafeno a partir da esfoliação química do grafite natural e aplicações (MGgrafeno)”, tem o propósito de desenvolver uma rota de produção de grafeno a partir do grafite natural, estabelecer e operar uma planta piloto, a partir de um acordo técnico firmado entre o Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN/Cnen), a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemge).
Na esteira dos estudos de materiais avançados e minerais estratégicos, o CDTN lidera também o projeto GraNioTer, que tem o propósito de se estabelecer como um HUB tecnológico nacional para promover a Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação baseadas em grafeno, nióbio, terras raras, dentre outros materiais e minerais com demanda global em crescimento.
Segundo Wilson Calvo, as indústrias nucleares e de energia podem obter vantagem do desenvolvimento de aplicações potenciais de nanomateriais de grafeno, além de nióbio e terras raras. O projeto resultou na proteção de dez ativos de propriedade intelectual: três softwares, três segredos de know-how, três pedidos de patentes e um desenho industrial.
O Caso 2 – Projeto Técnica de radiotraçadores em plataformas offshore de petróleo e gás e plantas de processamento, é liderado pelo Instituto de Engenharia Nuclear (IEN/Cnen), em colaboração com a Empresa Brasileira de Petróleo (Petrobras) e uma pequena empresa spin-off de base tecnológica (Atomum). Tem como objetivo de desenvolver um protótipo e métodos para medir o fluxo de petróleo e gás em dutos.
As grandes vantagens das técnicas de radiotraçador são a possibilidade de realizar intervenções em tempo real, sem influenciar o funcionamento normal de uma instalação. Além disso, a utilização de baixas concentrações do radiotraçador, devido à alta sensibilidade de detecção do sistema, não apresenta risco radiológico aos trabalhadores nem causa danos ou contaminação aos equipamentos e ao meio ambiente.
Caso 3 – O projeto Unidade Móvel com Acelerador de Feixe de Elétrons é liderado pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen/Cnen), em parceria com a Trucvan e apoio da AIEA. Em 2019, conquistou o prêmio Internacional Atomexpo, em Sochi, na Rússia, pelo caráter inovador e de contribuição ao meio ambiente.
Desenvolvida com o objetivo de ampliar a capacidade nacional de tratar efluentes industriais utilizando aceleradores de feixe de elétrons, a instalação itinerante visa melhorar a qualidade da água nas áreas urbanas, um dos principais desafios que as sociedades enfrentam neste século.
“Desafios globais”
Durante a conferência, os representantes brasileiros estão participando ativamente de painéis de discussão, apresentando pesquisas e colaborando com outros países para enfrentar os desafios globais relacionados à energia nuclear, como a gestão de resíduos nucleares e a não proliferação de armas nucleares.
A presença marcante do Brasil na 67ª Conferência da AIEA demonstra o compromisso do país em promover a inovação e a excelência no setor nuclear. O Brasil reafirma seu papel como um ator global na área nuclear e seu compromisso com o uso pacífico da energia nuclear para benefício da humanidade.
A Cnen também integrou a mesa do Side Event sobre a recém-criada Rede Regional de Reatores de Pesquisa na América Latina e Caribe (Rialc, da sigla em espanhol).
“Átomos para a Paz e o Desenvolvimento”
Na abertura, o diretor-geral Rafael Mariano Grossi deu as boas-vindas à Gâmbia e a Cabo Verde como novos Estados-Membros da AIEA desde a última Conferência Geral – agora, são 177 Estados- Membros. Em seu segundo mandato, Grossi mencionou a pandemia e a guerra entre Rússia e Ucrânia como “acontecimentos trágicos por si só”, mas que também “tornam mais difícil – e urgente – enfrentar a calamidade cada vez mais presente das alterações climáticas e os desafios muito graves da pobreza, da doença, da fome e da alimentação, da água e da energia”.
O diretor-geral da AIEA também salientou consistência e transparências nas ações, e afirmou que “a energia nuclear é mais segura do que nunca e é mais segura do que quase qualquer outra fonte de energia”. Segundo ele, isso se deve em grande parte ao compromisso da área e ao papel da AIEA. “Setenta anos depois do famoso discurso que ajudou a fundar a AIEA, o sonho de ‘Átomos para a Paz’, agora Átomos para a Paz e o Desenvolvimento, continua vivo. Tornar isso realidade depende de todos nós”, concluiu.
Leia na íntegra o discurso de Rafael Grossi.
A notícia foi publicada originalmente no site da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen).
+ Intervenção do Brasil (em inglês) no debate geral da 67ª Conferência Geral da AIEA (Viena, 26/9/2023)
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Foto em destaque: Wilson Calvo, diretor de Pesquisa da Cnen, Patricia Pagetti, coordenadora do Projeto RMB, Francisco Rondinelli Jr., presidente da Cnen, e Luis Fernandes, secretário executivo do MCTI / Divulgação
Fonte: Assessoria de Comunicação Social da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen)