Artigo da Foundation for Economic Education (FEE) traduzido pelo jornal paranaense Gazeta do Povo aborda a aprovação de lei que estende a vida operacional da central nuclear de Diablo Canyon, localizada em Avila Beach, na Califórnia (EUA), por mais cinco anos. O sítio abriga dois reatores operacionais, que possuem potência instalada conjunta de 2.394 megawatts – MW (cada um com potência de 1.197 MW), segundo dados do Sistema de Informação de Reator de Potência da Agência Internacional de Energia Atômica (Pris/IAEA, na sigla em inglês) – esse quantitativo representa cerca de 8% da energia produzida na Califórnia. Anteriormente, as licenças de operação das usinas, que foram conectadas à rede nos anos 1980, expirariam em 2024 (nº 1) e 2025 (nº 2).
A reconsideração do prazo de vida útil de Diablo Canyon é acompanhada de outros movimentos pelo mundo em prol da renovação do uso da energia nuclear. O texto cita, como exemplo, a Bélgica, que tenta prorrogar licenças que estão prestes a vencer e, assim, manter em operação suas usinas nucleares; a França, que propôs construir até 14 novos reatores de potência nos próximos anos; e o Japão, o qual desligou suas usinas nucleares após o acidente de Fukushima-Daiichi, em março de 2011, e que agora quer reativar nove unidades. Além disso, há planos de construção de plantas nucleares em países como Reino Unido, Polônia e República Tcheca.
O motivo dessa guinada tem a ver com os preços do gás natural, que dispararam em escala global. Para se ter ideia, nos EUA eles atingiram recentemente o maior pico em 14 anos. Já na Europa, diretamente impactada pela guerra da Rússia na Ucrânia, os preços são os maiores de todos os tempos: cerca de US$ 600 por barril de petróleo. O gás natural consumido pelos europeus, é bom ressaltar, é importado da Rússia, que fechou a torneira por conta das sanções impostas pelo conflito militar.
Situação na Califórnia
Segundo o artigo, a principal razão para o estado repensar a decisão de fechar Diablo Canyon é sua combalida rede elétrica. Na semana passada, os operadores da rede californiana alertaram para apagões e incentivaram os cidadãos a “colocarem os termostatos em 25ºC ou mais, evitarem o uso de grandes eletrodomésticos e dar carga em carros elétricos, além de desligarem luzes desnecessárias”.
Considerada um player em energias renováveis, a Califórnia já chegou, em um único dia, a produzir eletricidade por essas fontes na ordem de 103% de suas necessidades. Contudo, como elas são intermitentes, na maioria dos dias a geração fica bem aquém da demanda dos consumidores, e é por isso que metade da energia do estado tem origem no, cada vez mais caro, gás natural.
Com relação à rede elétrica da Califórnia, que já atingiu o limite, abortar subitamente a nucleoeletricidade é uma receita para o desastre. Como até mesmo os parlamentares progressistas da Califórnia admitem, Diablo Canyon gera mais de 8% de toda a eletricidade californiana – isso corresponde a 17% da sua produção com carbono zero. Portanto, a perda abrupta de 18 mil gigawatts-hora (GWh) somada com o aparecimento de um milhão de carros elétricos – o banimento estadual de carros a gasolina entrará em vigor – representará um colapso.
A reviravolta da Diablo Canyon é digna de nota porque a Califórnia é o berço do movimento antinuclear norte-americano. Por anos os ambientalistas se opuseram à energia nuclear “sobretudo por receios quanto ao lixo nuclear e aos acidentes possíveis, bem como por sua associação com armas nucleares”.
Contudo, o acidente de Fukushima nos mostra que tais receios são infundados. Acidentes nucleares ocorrem, embora sejam raros, e usinas criam rejeitos, mas esses ônus não são exclusivos dos setores nucleoelétrico e de combustíveis fósseis. Os ambientalistas simplesmente omitem que toda a produção de energia tem contras.
“A realidade é que os políticos não têm nenhum conhecimento especial quando se trata de decidir quais balanços fazem mais sentido, o que pode explicar por que um mundo de energia abundante está, subitamente, enfrentando uma crise energética jamais vista em gerações. Então, ainda que possamos ficar gratos por tantos políticos, ambientalistas e países finalmente estarem reconhecendo os benefícios da energia nuclear, devemos nos perguntar por que demos a eles tanto poder, em primeiro lugar”.
Leia o artigo original, em inglês, aqui.
+ Por que a energia nuclear está à beira de um renascimento
Autor: Jon Miltimore
Foto: Diablo Canyon abastece cerca de 8% da eletricidade produzida no Estado da Califórnia (EUA) / Divulgação
Fonte: Foundation for Economic Education – FEE (artigo traduzido pelo site do jornal Gazeta do Povo)