Mayara Francisca tem 25 anos, é mestranda de Engenharia Nuclear pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e se destaca por ser uma das únicas mulheres brasileiras a estudar Reatores Modulares Pequenos (SMR).
Há poucos dias da sua defesa de mestrado, conversou conosco sobre sua pesquisa, o mercado de energia nuclear e sua conquista da bolsa Marie Sklodowska-Curie (MSCFP), oferecida pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Um começo na energia nuclear.
Original de Curitiba e residente de Dourados no Mato Grosso do Sul, Mayara, se graduou em Engenharia de Energia na Universidade Federal da grande Dourados.
Já no terceiro ano do curso, se apaixonou pelo estudo de energia nucelar e pensava se especializar na área. O que se tornou uma certeza após participar do congresso internacional de engenharia mecânica COBEM em Uberlândia em 2019 e assistir apresentações sobre análise termo-hidráulica da contenção dos alunos do doutor Su Jian, seu atual orientador e professor titular do Programa de Engenharia Nuclear do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (COPPE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A bolsa Marie Sklodowska-Curie
Para Mayara, esta conquista foi extremamente importante para sua carreira acadêmica, principalmente por proporcionar um estágio internacional, onde ela poderá acompanhar de perto o setor de reatores e aplicações não elétricas da AIEA.
A bolsa tem como objetivo estimular jovens mulheres a seguirem carreira na área nuclear. Além de oferecer incentivo financeiro, a contemplada também tem a oportunidade de realizar um estágio internacional na AIEA.
Outro ponto importante levantado por ela, foi que a bolsa é um incentivo para o aumento de mulheres estudando a energia nuclear. Para ela, a dificuldade de se ter mulheres na área é a mesma sofrida por outras áreas da engenharia, não são incentivadas a estudar ciências exatas.
Sua maior inspiração feminina além da que nomeia a bolsa, é a Doutora Inaya Corrêa, professora do Programa de Engenharia Nuclear (PEN) da Coppe/UFRJ, que apesar de realizar estudos em uma área diferente da sua, é alguém com quem tem contato frequente e se inspira no seu trabalho em prol da divulgação da energia nuclear.
Pesquisa e desenvolvimento de SMRs no Brasil.
Os SMRs (da sigla em inglês para Pequeno Reator Modular), são reatores nucleares avançados que tem potência de até 300MW (e) por unidade, cerca de um terço da capacidade geradora dos reatores nucleares de potência tradicional.
Tema da pesquisa de dissertação de mestrado da Mayara, são importantes para o desenvolvimento da Inteligência Artificial (IA), pelo seu fornecimento de energia independente aos datacenters. Além disso, podem atender as demandas energéticas do nosso país.
Atualmente, o Brasil tem estudos voltados para a defesa, através da criação do submarino de propulsão nuclear, projeto realizado pela Marinha do Brasil e AMAZUL. E diferentes estudos apoiados pelo Instituto de Energia Nuclear (IEN), com foco em cogeração e aplicações não elétricas como a dessalinização da água do mar.
Durante a entrevista, Mayara reforçou que a desenvolvimento de pesquisas sobre os SMRs irão gerar desenvolvimento tecnológico enorme para o Brasil, além de possibilitar o fornecimento de energia e água potável em áreas remotas.
Sua pesquisa tem como foco analisar o comportamento da circulação natural bifásica em um reator que está sob influência de um ângulo de inclinação. O que pode ser aplicado em reatores embarcados, em navios ou submarinos, contribuindo para o avanço da segurança e eficiência desses sistemas inovadores.
O futuro do Programa Nuclear Brasileiro
Nos últimos anos tem se discutido a importância do Programa Nuclear Brasileiro (PNB) e mais recentemente, a continuação ou paralisação a construção da usina de Angra 3. Sobre este assunto, Mayara reforçou a relevância do programa para o desenvolvimento tecnológico do país.
“A fuga de cérebros, impacta diretamente no desenvolvimento tecnológico do Brasil. Atualmente muitos graduados e pós-graduados estão migrando para os EUA e França. Os cientistas daqui estão sendo contratos para trabalhar em programas nucleares de outros países. Nós temos a capacidade intelectual. Só precisamos de investimento”, afirmou ao falar do PNB e seu valor para o desenvolvimento cientifico do Brasil.