A 76ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada na cidade de Belém no período de 7 a 14 de julho, acabou, mas os ganhos científicos por conta da Programação Científica do evento e suas diversas atividades certamente continuarão repercutindo na comunidade científica e na sociedade.
Um destes temas é o “O Reator Multipropósito Brasileiro: produção de radioisótopos e pesquisa”, apresentado e discutido na tarde do dia 12 de julho no âmbito das mesas-redondas organizadas durante o evento.
Para discutir o assunto, foram convidados o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), Wilson Calvo; a especialista em medicina nuclear e membro da atual diretoria da Associação Nacional de Empresas de Medicina Nuclear (ANAEMN), Daniela Oda; e o consultor técnico do RMB no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen/Cnen), José Augusto Perrotta.
Durante sua fala, Perrotta apresentou o projeto do RMB ressaltando a sua relevância para o Brasil, os desafios para sua construção e os estágios alcançados até momento para sua implantação.
Considerado um dos projetos estratégicos tanto para a Cnen quanto para o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o RMB está atualmente orçado em 500 milhões de dólares e, segundo o palestrante, em fase de retomada após quatro anos parado.
Como ponto positivo, foi divulgado que o novo reator, definido para ser construído num terreno de 2 milhões de metros quadrados próximo ao município de Iperó, no interior de São Paulo, já está com os licenciamentos exigidos para sua construção totalmente concluídos. Além disso, o projeto conta com o apoio do Governo Federal por meio do MCTI, que o reconhece como um empreendimento importante para o País e para a sociedade.
“O projeto do RMB foi incluído no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), sendo posto como prioridade no financiamento através do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). Atualmente, estamos desenvolvendo um diálogo tanto no MCTI quanto na Casa Civil, quem coordena o PAC, para juntos verificarmos como fazer a implantação tendo em vista os números grandiosos do projeto. A ideia é que nos próximos meses seja construída uma ponte e abertas e pavimentadas as vias de acesso à área do futuro reator e demais prédios auxiliares a serem construídos, mas isso depende da liberação de recursos para a obra, que deve ficar pronta em 2030”, revelou José Augusto Perrotta.
A especialista em medicina nuclear, Daniela Oda, trouxe um panorama sobre a aplicação da medicina nuclear teranóstica (para fins de diagnóstico e tratamento) e os desafios do mercado que envolve a medicina nuclear brasileira em clínicas particulares.
Ela chamou a atenção para a necessidade da modernização e ampliação da produção de radiofármacos e o papel do Ipen, da Cnen e do RMB no futuro deste processo. Também apresentou números que indicam uma diminuição de tratamentos, principalmente de câncer no Brasil, enquanto a doença cresce em muitos países.
A palestrante ressaltou que o debate foi excelente porque os participantes expuseram suas ânsias acerca da implantação do RMB e as soluções para o futuro da medicina nuclear do país.
“Falar sobre o papel do reator multipropósito, que há algum tempo era apenas um sonho, mas que hoje está se tornando uma realidade, juntamente com a importância das radiofarmácias públicas e os investimentos privados, é de extrema importância para as soluções que devem ser dadas à área da medicina nuclear. É importante que haja sempre uma atenção às agências regulatórias que necessitam compreender que uma radiofarmácia pública nunca será uma fábrica, por isso não é possível fazer as mesmas exigências, pois são destas radiofarmácias públicas que saem as inovações e as soluções para os tratamentos de medicina nuclear. Estamos hoje na era do teranóstico e cada vez mais aumentando o número de procedimentos de medicina nuclear e tratamentos oncológicos, então precisamos do Reator Multipropósito Brasileiro para nos ajudar”, concluiu.
Para o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Cnen, Wilson Calvo, que apresentou as questões legais e normativas que envolvem o setor nuclear brasileiro, o RMB é essencial para propiciar custos mais baixos aos insumos, e consequentemente, aos tratamentos da população, conseguindo assim atingir um número maior de pessoas que não podem esperar muito tempo pelos procedimentos médicos envolvidos.
“Nós apresentamos todas as possibilidades que o empreendimento trará ao país, desde a área de ensino e a sua funcionalidade como um centro de pesquisa, que vai propiciar a análise de materiais, toda a parte de ativação eletrônica para estudos ambientais, teste de combustíveis para reatores de pesquisa, mas, principalmente, a questão da produção de radioisótopos e radiofármacos para a medicina nuclear. Nós vimos aqui que os radiofármacos são um insumo extremamente estratégico e nós precisamos deles para que um número maior de pacientes seja atendido e ainda para que possamos evitar os riscos de desabastecimentos, como ocorreu no passado devido a uma série de fatores”, ressaltou.
O presidente da Cnen, Francisco Rondinelli Júnior, que esteve presente na mesa-redonda organizada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e acompanhou as apresentações, lembrou que a SBPC é uma grande parceira do setor nuclear, porque sempre inclui na sua programação o tema nuclear.
“Consideramos este diálogo com a SBPC algo fundamental e essa mesa-redonda especialmente tratando sobre o Reator Multipropósito Brasileiro. A questão das radiofarmácias e da medicina nuclear no Brasil foi importante para expor as necessidades desse setor, que é tão importante para a sociedade brasileira”, finalizou o presidente da Cnen.
Para assistir às apresentações na íntegra e aos debates durante a mesa-redonda “O Reator Multipropósito Brasileiro: produção de radioisótopos e pesquisa”, basta acessar o link do YouTube.
A notícia foi publicada originalmente no site da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen).
Autor: Ulysses Varela – Jornalista Científico – Bolsista BGE-DA/Ipen-Cnen
Foto em destaque: Crédito – Bianca Wendhausen/Cnen
Fonte: Assessoria de Comunicação Social da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen)