Saiu no clipping da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) da última quinta, dia 31 de agosto, matéria sobre a resolução do mistério de 37 anos do “paradoxo do javali”, que se trata da presença de radioatividade em porcos selvagens alemães. Pesquisadores germânicos e austríacos publicaram estudo na revista Environmental Science & Technology na última terça-feira, dia 29 de agosto, o qual apresenta o motivo que explica porque outros animais contaminados com altos níveis de césio radioativo por conta do desastre de Chernobyl (1986) tiveram a radioatividade reduzida com o passar dos anos ao passo que o mesmo não ocorreu com javalis.
A publicação aponta como segundo motivo responsável pela contaminação dos animais os testes de armas nucleares realizados em meados do século passado na Alemanha. O acidente nuclear de Chernobyl, no norte da Ucrânia, na antiga União Soviética, causou um aumento na contaminação radioativa da fauna e flora de toda a Europa, particularmente por césio-137, que tem meia-vida de cerca de 30 anos. Contudo, outro isótopo que também pode ser criado a partir da fissão nuclear, o césio-135, é muito mais estável e tem uma meia-vida superior a dois milhões de anos.
Os pesquisadores, então, resolveram comparar a proporção de césio-135 para césio-137 para determinar de onde veio o elemento. Uma proporção alta pode indicar explosões de armas nucleares, enquanto uma mais baixa aponta como fonte provável os reatores. Foram analisadas 48 amostras de carne de javali recolhidas por caçadores no período entre 2019 e 2021, em 11 regiões da Baviera, na Alemanha. Os cientistas utilizaram um detector de raios gama de alta pureza para medir a atividade do césio-137, e a espectrometria de massa de alta tecnologia comparou a quantidade dos dois isótopos.
Dentre os achados da pesquisa, foi descoberto que os níveis de césio radioativo em 88% das amostras de carne testadas foram superiores ao limite legal da Alemanha. Além disso, e o mais importante, foi possível observar que os testes de armas nucleares foram responsáveis entre 12%-68% da contaminação nas amostras que ultrapassaram o limite de consumo seguro.
A conclusão dos cientistas é que, apesar de Chernobyl ser a principal fonte de césio em javalis, cerca de um quarto das amostras mostrou contribuições significativas dos testes de armas para exceder o limite regulamentado, sem sequer ter em conta a contribuição de Chernobyl.
“Todas as amostras apresentam assinaturas de mistura. O impacto causado pelas armas nucleares e [Chernobyl] misturaram-se no solo da Baviera, cujas liberações ocorreram com cerca de 20 a 30 anos de diferença”, escrevem os pesquisadores.
Foto: Javali selvagem / Freepik
Fonte: Clipping da Comissão Nacional de Energia Nuclear (O Globo)