Alemanha: 2022 marcado por “retorno de carvão”

Alemanha: 2022 marcado por “retorno de carvão”

As emissões alemãs de gases de efeito estufa estagnaram em 2022, apesar da queda no consumo nacional de energia, de acordo com um relatório publicado no último dia 4 pelo instituto de pesquisa Agora Energiewende.

Menor nível de consumo desde a reunificação da Alemanha

Em 2022, o consumo alemão de energia primária foi de 3.286 terawatts-hora (TWh) segundo o Agora Energiewende, uma queda de 4,7% em relação a 2021. “Caiu abaixo do nível do ano de 2020 (marcado pela Covid-19) e, portanto, atingiu seu nível mais baixo na Alemanha reunificada”, informa.

As emissões germânicas de gases de efeito estufa estagnaram em cerca de 761 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente em 2022, ficando acima da meta nacional estabelecida no ano passado – 756 Mt CO2e.

Após a invasão da Ucrânia pela Rússia, a Alemanha foi desabastecida do gás natural russo, do qual é fortemente dependente, e “as medidas de curto prazo em favor da segurança energética foram priorizadas sobre os objetivos climáticos”, explica o diretor da Alemanha no Agora Energiewende, Simon Müller. O consumo alemão de gás em 2022 caiu 15% em relação a 2021, mas o de petróleo aumentou de 3% a 5% no mesmo período.

No total, os combustíveis fósseis representaram quase 79% do consumo de energia primária da Alemanha no ano passado, em comparação com cerca de 77% em 2021, de acordo com dados do instituto de pesquisa (35,2% de petróleo, 23,8% de gás e 19,8% de carvão).

Recorde de produção de eletricidade a partir de fontes renováveis e retorno do carvão

Em 2022, as fontes renováveis geraram 256 TWh de eletricidade, cerca de 9% a mais em comparação a 2021 (a energia solar aumentou 23%, mas a eólica continua sendo a principal renovável na Alemanha). No total, as fontes renováveis representaram 44,4% da produção da eletricidade germânica em 2022 (em comparação com 31,7% do carvão, incluindo o mais poluente linhito).

Entretanto, “o ano recorde para as energias renováveis deve-se principalmente às boas condições meteorológicas e, portanto, não constitui uma contribuição estrutural para a proteção do clima”, adverte Müller. Ele lamenta uma “crise na implantação da energia eólica”, com apenas 2 gigawatts (GW) novos da fonte instalados no país no ano passado.

O diretor do Agora Energiewende também reclama de um “retorno do carvão claramente em contradição com os objetivos climáticos”, uma vez que as usinas na Alemanha movidas a esse combustível fóssil produziram em 2022 quase 12% a mais de eletricidade em relação ao ano anterior. Já a geração nucleoelétrica caiu 45%, acarretando na redução da participação nuclear na matriz elétrica alemã de 11,8% (2021) para 6,5% (2022) – houve o fechamento programado de 4 GW de capacidade nuclear no fim de 2021.

A Agora Energiewende também pontua que a Alemanha exportou 38% mais eletricidade para a França em 2022 em relação a 2021, “principalmente devido à queda de cerca de um terço na produção nuclear francesa desde abril e ao aumento na Alemanha da produção de eletricidade via carvão”.

Leia a matéria original, em francês, aqui.

COMENTÁRIO

Desde que decidiu tomar a decisão política de abandonar a geração nuclear após o acidente na central japonesa de Fukushima-Daiichi (março de 2011), por conta de pressão do Partido Verde, a Alemanha aumentou a dependência de fornecimento do gás natural russo e, mais recentemente, passou a queimar ainda mais linhito, um carvão com menor poder calorífero e mais poluente, que é abundante em seu território. O país mais rico da Europa encontra-se em uma encruzilhada, pois as três únicas usinas nucleares ainda em funcionamento poderão operar somente até abril deste ano. Ao contrário da fonte nuclear, as renováveis eólica e solar, que recebem vultosos subsídios na Alemanha, são intermitentes e não conferem segurança no abastecimento energético.

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Imagem: Bandeira da Alemanha / Pixabay

Fonte: Connaissance des Énergies