Programa brasileiro de energia nuclear ganha um reforço em sua defesa na nova legislatura da Câmara dos Deputados em Brasília

Programa brasileiro de energia nuclear ganha um reforço em sua defesa na nova legislatura da Câmara dos Deputados em Brasília

O Rio de Janeiro e o Programa Nuclear Brasileiro (PNB) ganharam um padrinho de peso para defendê-los em Brasília. O deputado Júlio Lopes, que vai passar mais quatro anos na Câmara dos Deputados, levantando esta bandeira e os interesses do Estado, aprofundou seus conhecimentos nas várias ações do uso pacífico da energia nuclear e passou a ser o principal parlamentar do país a dominar o tema e suas diversas alternativas. Ele é o convidado desta segunda-feira (2) do Projeto Perspectivas 2023 do site Petronotícias. Seja na geração de energia, onde defende com convicção a retomada decisiva das obras de Angra 3, que poderá empregar mais de oito mil pessoas, como usar o mesmo sítio de Angra para a instalação da primeira usina do programa dos pequenos reatores nucleares (SMRs). Júlio Lopes defende ainda a ampliação do uso dos radiofármacos e o uso da medicina nuclear nos diagnósticos e tratamento de câncer, a finalização do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB) e a melhora da logística na unidade que está sendo desenvolvida na cidade de Duque de Caxias. Ele não esqueceu também do tratamento com radiação de alimentos, que pode prolongar a longevidade de alimentos para exportação pelos portos do Rio, bem como um tratamento e na melhora na conservação e logística de distribuição. Vamos saber as suas opiniões:

Como o senhor enxerga o Programa Nuclear Brasileiro, especialmente as oportunidades no setor de geração de energia?

Usina nuclear Angra 3

No mundo inteiro, desde os países mais preocupados com a sustentabilidade, toda a Europa em função da guerra da Ucrânia, todos reféns de suas estratégias da energia nuclear, que centram nesta possibilidade a sua autonomia estratégica em relação à energia. Não é por outra razão que a França, Alemanha, Finlândia, enfim, inúmeros países da União Europeia estão aumentando as suas estratégias e planejando indústrias nucleares para poder fazer face à demanda de energia. É muito proveitoso o momento, no sentido de debater a questão de não mais atrasar essa obra tão importante que é Angra 3. E discutirmos a efetividade de uma quarta usina aqui no mesmo sítio, sendo uma usina de menor porte. Então, um conjunto de medidas globais a favor da sustentabilidade, a favor da energia nuclear e vejo que o Brasil vai posicionar-se igualmente e, certamente, dar ênfase nessa enorme oportunidade da energia nuclear no Brasil.

Angra 3 engasgou novamente?

Celso Cunha
Celso Cunha, presidente da Abdan

Como todos sabem, Angra 3 vem sendo postergada inúmeras vezes e agora o ex-ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, alterou os planos aí, enfim, movimentando a diretoria da Eletronuclear, que no meu entendimento atrasou mais uma vez o processo da obra, que já foi postergado para 2031. Eu entendo que nós todos no Congresso Nacional, nós todos brasileiros, principalmente nós fluminenses, nós cariocas, no Rio de Janeiro, precisamos nos posicionar muito favoravelmente à aceleração das obras, não só pela oportunidade de termos lá 8 mil trabalhadores durante a efetividade das obras de Angra 3, mas também pelo volume de recursos que o Rio de Janeiro terá para a conclusão da obra, algo estimado em torno de R$ 18 a R$ 20 bilhões.

A questão dos combustíveis e da produção de urânio se tornaram fundamentais, não?

Olha, eu mesmo estive com o próprio presidente da ENBPar, Almirante Ney Zanella, durante a inauguração da nova cascata da INB, e isso fica muito claro. O Rio de Janeiro precisa desses investimentos, o Brasil precisa e com Angra 3 concluída nós vamos ter 70% da energia do Rio gerada a partir de fonte nuclear, o que é muito positivo, com perspectiva enorme de sermos exportadores de energia elétrica a curto prazo.

Precisamos começar com as providências para termos aqui os pequenos reatores nucleares lá no sitio de Angra num curto prazo. Podemos aproveitar todos esses atrasos para planejar a quarta usina que tem, inclusive, a autorização, segundo o Almirante Zanella para localização no mesmo sítio.

Almirante Ney Zanella
Ney Zanella – presidente da ENBPar

O Almirante disse ter anunciado isso na Rússia, recentemente, e nós acreditamos nessa possibilidade. Vejo, portanto, uma excelente perspectiva de toda área nuclear. Tenho conversado isso muito com o Celso Cunha, presidente da Abdan, para que nós nos mobilizemos, assim que instalar a nova legislatura. Quero fazer uma frente parlamentar com esta proposta para apoiar fortemente o avanço da energia nuclear no Brasil e sobretudo no Rio de Janeiro para termos aqui a quarta usina e termos a conclusão, o quanto antes, de Angra 3.

O senhor também tem a preocupação da ampliação do segmento da medicina nuclear em 2023?

Quando falamos da tecnologia da energia nuclear, não podemos nos esquecer do grande avanço na área da medicina nuclear. Principalmente da medicina não invasiva, da medicina que não precisa de grandes cortes, de grandes intervenções cirúrgicas. São novas tecnologias, como a laparoscopia e de bombardeamentos externos que podem avançar e que têm avançado muito em toda a área do câncer, de doenças raras. Todas essas doenças têm hoje um grande avanço no seu combate a partir da medicina nuclear. Portanto, o Rio de Janeiro precisa dar ênfase a isto.

Tomógrafo

Nós temos notícias de alguns investimentos já sendo realizados no estado, notadamente em Caxias, na área de medicina nuclear, e é importantíssimo que todo o Estado e todos nós possamos dar todo apoio e incentivo para que investimentos aconteçam maciçamente aqui no Rio de Janeiro. Da nossa parte no Congresso Nacional, faremos todo possível para avançar com a tecnologia de medicina nuclear, apoiando investimentos no Estado e em todo país.

Em relação à radiação de alimentos, o Rio de Janeiro ainda não tem nada especifico neste setor. Também é uma de suas preocupações?

Sem dúvida. A área de radiação de alimentos é um setor que tem se desenvolvido muito. Precisamos trazer para o Rio de Janeiro, que ainda não conta com nenhum setor específico para isso, para que possamos tratar alimentos que são exportados pelos portos do Rio de Janeiro. Além disso, podemos melhorar o transporte logístico de certos alimentos, aumentando a longevidade desses produtos a partir da irradiação.

Instalação da INB

Precisamos estar par e passo com o mundo desenvolvido que vem utilizando esta tecnologia, como um país de maior capacidade de exportação de alimento. Portanto, precisamos avançar nessa área. Não só para a exportação, mas para consumo interno, melhorando a logística, conseguindo melhor preço em termos de produtividade.

A notícia foi publicada originalmente no site Petronotícias.

Fotos: Divulgação Petronotícias

Fonte: Petronotícias