O Brasil não pode ficar fora dessa tendência mundial
Por Eduardo Grivot de Grand Court
Em seu discurso na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2022 (COP 27), no Egito, o secretário geral da ONU, António Guterres, afirmou que as emissões de gases de efeito estufa e a temperatura do planeta continuam subindo. Assim, ele pediu que os países trabalhem juntos para reduzir suas emissões e acelerem a transição para as energias limpas.
O Brasil tem uma das matrizes elétricas mais limpas do mundo. É 84% de energia limpa – 300% mais do que a média mundial, que é de 27%, segundo dados do Ministério de Minas e Energia. Mesmo assim, o país não pode ficar fora desse movimento mundial. Nesse contexto, o setor elétrico tem um papel decisivo a cumprir, que passa pela expansão da energia nuclear.
Segundo a Agência Internacional de Energia, a geração nuclear hoje representa 10% da produção global de eletricidade, percentual que salta para 28% quando consideramos apenas as fontes com baixa emissão de carbono. Nuclear é a segunda fonte mais limpa do planeta, perdendo apenas para a hidreletricidade. Não à toa, em julho, a União Europeia incluiu a energia nuclear na sua lista de fontes sustentáveis, o que tem estimulado fortes investimentos no setor. Diversos países, como EUA, Inglaterra e China, já estão com projetos de novos reatores para fazer frente à necessidade de descarbonizar suas matrizes elétricas.
A conclusão da usina Angra 3, que acontecerá nos próximos anos, é essencial nesse processo. Com ela, o Brasil terá um ganho significativo, que tornará possível realizar em larga escala todas as etapas do processo de geração de energia nuclear, da mineração à produção de eletricidade.
Nosso país tem a sétima maior reserva de urânio do mundo, segundo levantamento das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), e é um dos poucos países que detêm minério, tecnologia para processá-lo e usinas para convertê-lo em eletricidade. Uma usina como Angra 3, sozinha, é capaz de abastecer toda a região Norte do país, por exemplo.
A previsibilidade tarifária, uma vez que nosso combustível será 100% nacional, aliada à sua grande disponibilidade (Angra 1 e Angra 2, por exemplo, funcionam a plena capacidade, 24 horas por dia) são dois fatores que colocarão a energia nuclear num papel de protagonismo nessa transição energética em nosso país.
Energias renováveis, como eólica e solar, cresceram 225% nos últimos quatro anos, segundo o Balanço Nacional da Empresa de Planejamento Energético (EPE), e continuarão a ter um papel importante, mas, por sua própria natureza, são intermitentes e dependem de outras fontes, como a nuclear, para garantir segurança ao sistema elétrico nacional.
Nosso potencial hídrico está cada vez mais comprometido, seja pela inconstância no regime de chuvas, seja pelo esgotamento dos potenciais locais para novos empreendimentos.
Com a crise hídrica recente, foi necessário ligar térmicas a gás natural e a óleo, cujo combustível é dolarizado e sujeito a uma alta volatilidade no preço em função de questões geopolíticas, como a guerra na Ucrânia.
O Plano Nacional de Energia (PNE) 2050 prevê o acréscimo de 8 GW a 10 GW nucleares ao sistema elétrico nas próximas três décadas. Pensando nisso, o Ministério de Minas e Energia (MME) retomou a prospecção de sítios que podem abrigar novas usinas nucleares.
As condições estão propícias para uma aposta renovada na energia nuclear, e o Brasil não pode ficar fora dessa tendência mundial, sob risco de tornar sua matriz elétrica menos confiável e mais sujeita à instabilidade dos preços do combustível fóssil no mercado mundial.
Eduardo Grivot de Grand Court é presidente da Eletronuclear
O artigo foi publicado originalmente aqui.
+ Pesquisadores fazem esclarecimento técnico sobre programas nucleares nacionais
+ ARTIGO | A retomada da energia nuclear
+ ARTIGO | Um programa nuclear estratégico para o Estado Brasileiro, por Olga Simbalista
+ Artigo sobre a retomada da energia nuclear no mundo
Imagem: Divulgação O Tempo
Fonte: Portal O Tempo – MG