Governo Federal da Alemanha aprovou uma decisão executiva do chanceler Olaf Scholz para permitir que as três usinas nucleares ainda em operação no país continuem operando em 2023. O projeto que altera a Lei de Energia Atômica possibilita que as plantas Emsland, Isar 2 e Neckarwestheim 2 funcionem até 15 de abril do ano que vem.
Na última segunda-feira, dia 17, Scholz tomou a decisão de permitir que os três reatores continuem a gerar eletricidade até 15 de abril de 2023. Sua decisão seguiu-se a desacordo entre os partidos da coalizão governista sobre a operação contínua além da data de desativação nuclear – 31 de dezembro de 2022, estabelecida pela ex-chanceler Angela Merkel.
A emenda aprovada pelo governo (Gabinete Federal) ontem, 19, cria os requisitos da lei nuclear para uma operação estendida limitada de Emsland, Isar 2 e Neckarwestheim 2. O texto estipula que apenas os elementos combustíveis ainda disponíveis nas respectivas usinas nucleares devem ser utilizados para a operação posterior. Desse modo, não está permitido o uso de novos elementos combustíveis e as potências dos reatores serão reduzidas gradualmente. Devido ao curto período de no máximo três meses e meio de operação extra, nenhuma revisão periódica de segurança será necessária.
A emenda legislativa não requer a aprovação da Câmara alta do Parlamento alemão (Bundesrat). “Com a emenda à Lei de Energia Atômica, a decisão executiva do chanceler federal é implementada”, informou o governo.
O Partido Verde – um dos três que compõem a coalizão que governa a Alemanha em nível federal – concordou em apoiar o prolongamento da operação das usinas nucleares Isar 2 e Neckarwestheim 2 como reservas de emergência até abril. No entanto, opôs-se à aquisição de novo combustível nuclear. Já o liberal Partido Democrático Livre (FDP) pediu que todas as três usinas permanecessem em operação até 2024.
“O abandono da energia nuclear permanecerá”, disse a ministra federal do Meio Ambiente, Steffi Lemke, do Partido Verde. “A Alemanha eliminará a energia nuclear em 15 de abril de 2023. Não haverá extensão da vida útil nem aquisição de novas barras de combustível – e, portanto, nenhum rejeito altamente radioativo adicional. O projeto de lei contribuirá para a estabilidade da rede elétrica, que é compatível com a segurança nuclear porque limita a duração da operação da usina nuclear a um curto período no inverno. Mesmo na atual crise de fornecimento de energia, devemos ficar atentos aos riscos da energia nuclear”, defendeu.
O ministro de Assuntos Econômicos e Ação Climática e vice-chanceler da Alemanha, Robert Habeck, também do Partido Verde, acrescentou: “A decisão do gabinete é clara. As usinas nucleares Emsland, Isar 2 e Neckarwestheim 2 podem continuar a gerar eletricidade em operação estendida até 15 de abril 2023. Depois disso, não há novas barras de combustível”.
“No inverno de 2023/24 teremos condições diferentes e melhores. Poderemos importar significativamente mais gás, também através de nossos próprios terminais de GNL. As redes elétricas serão reforçadas e as capacidades de transporte serão aumentadas. Haverá também capacidades de geração adicionais na rede, especialmente para o uso de energias renováveis. Ainda há muito trabalho pela frente, mas a direção é clara: nesta crise, devemos aumentar as capacidades de geração de energia no curto prazo, mas, ao mesmo tempo, criar as condições para um fornecimento de energia seguro e ecológico em longo prazo”, finalizou Habeck.
Leia a matéria original, em inglês, aqui.
Comentário da Associação Brasileira de Energia Nuclear (ABEN):
Ao decidir abandonar a geração nuclear em 2011, na esteira do acidente da central nuclear de Fukushima-Daiichi, do Japão, por conta de pressão política do Partido Verde, a Alemanha se tornou refém de fontes intermitentes – sabidamente a eólica e a solar, sofre com a volatilidade dos preços das tarifas de energia e aumentou a dependência do fornecimento do gás da Rússia, que, ao ser sancionada pelo Ocidente por conta da guerra promovida na Ucrânia, passou a diminuir o fluxo desse combustível fóssil. Além disso, ironicamente, a Alemanha importa nucleoeletricidade da sua vizinha França e queima linhito, um carvão com baixo poder calorífero e, portanto, mais poluente, que é abundante em seu território. A lei garante que as três usinas nucleares restantes poderão operar até abril do ano que vem, mas, dado esse contexto, não será surpresa se ocorrer uma nova – e sábia – decisão pró-nuclear no país europeu. A ideologia não deveria sobrepujar a tecnologia!
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Foto: Robert Habeck e Steffi Lemke anunciando a decisão do governo sobre a emenda à Lei de Energia Atômica / Crédito: BMUV/Sascha Hilgers
Fonte: World Nuclear News (WNN)